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Redes sociais reduziram tempo destinado aos livros, diz CEO da Cultura

Livraria, que está em recuperação judicial, planeja intensificar vendas pela internet e remodelar lojas físicas para oferecer serviços e programas culturais

Por Fabiana Futema
Atualizado em 1 nov 2018, 19h29 - Publicado em 1 nov 2018, 18h31

A Livraria Cultura, uma das mais importantes do país, entrou em recuperação judicial após acumular dívidas de quase 300 milhões de reais. Além da redução de vendas provocada pela crise econômica, o mercado editorial sofre com o avanço das redes sociais. O CEO da Livraria Cultura, Sergio Herz, disse a VEJA que o tempo destinado à leitura diminuiu, pois o leitor passou a dividir a atenção com outras formas de entretenimento, como Facebook, WhatsApp e Netflix.

Por outro lado, Herz afirma que em tempos de superficialidade e fake news, “quem tem profundidade de conhecimento, estuda e lê terá vantagens”. “Acho que, de alguma maneira, as pessoas irão perceber que viver da superficialidade das redes sociais não trará bons frutos.”

O efeito da crise no mercado editorial pode ser visto nas ruas, com o fechamento de várias livrarias. A Livraria Cultura fechou todas as lojas da rede Fnac, que havia sido comprada em 2017, e planeja manter apenas os pontos rentáveis. A Saraiva acaba de anunciar o fechamento de 20 lojas.

No pedido de recuperação, a Livraria Cultura disse que a aquisição da Fnac agravou a situação financeira da empresa. Herz não chama de erro o negócio, mas admite que não alcançaram o que planejaram com a compra: “Fizemos uma tentativa e não logramos atingir o que projetamos inicialmente, mas o aprendizado foi muito válido”.

Veja abaixo entrevista com Sergio Herz:

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O que afetou mais a empresa: a crise econômica, o e-commerce ou a redução do hábito de leitura? Não existe um único motivo para explicar a crise. Podemos afirmar o seguinte: o que o mercado vem sofrendo hoje é devido a uma conjunção de fatores que ao longo do tempo foram se somando. Importante reforçar que a defasagem do preço do livro com relação à inflação contribuiu muito para a piora do setor. De 2014 a 2017, a inflação acumulada foi de 32%, e o preço dos livros só subiu 7%. Se considerarmos a queda de vendas a esse mesmo período, de 21%, podemos calcular a redução média do mercado em torno de 40%. O e-commerce, na minha visão, não é o causador dos problemas do mercado, mas, sim, a disputa que o tempo destinado à leitura sofre com relação às outras mídias. Entre elas, Facebook, Netflix, Whatsapp etc. Estamos dividindo nosso dia com muitas outras opções de entretenimento e, por isso mesmo, o tempo destinado à leitura pode estar menor.

Sérgio Herz, dono da Livraria Cultura (YouTube/Reprodução)

Como vocês vêm se preparando para enfrentar a concorrência digital? Nosso e-commerce é forte e hoje já representa 30% das nossas receitas. Se considerarmos a Estante Virtual, empresa do nosso grupo que é o maior market place de livros da América Latina, essa proporção já passa dos 50%. Dentro da Estante Virtual temos o nosso laboratório de inovação digital, o EV.A Lab. Estamos cada vez mais nos tornando uma empresa digital, com poucos, porém, ótimos pontos de vendas físicos. E, insisto, uma presença relevante no e-commerce.

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Um outro problema, o da redução da leitura, pode ser combatido de que forma? Melhoria na educação de base, mais e melhores escolas. O conhecimento está nos livros. Em tempos de fake news e de muita superficialidade, quem tem profundidade de conhecimento, quem estuda e lê terá vantagens. Acho que, de alguma maneira, as pessoas irão perceber que viver da superficialidade das redes sociais não trará bons frutos.

Quando vocês falam em manter poucas, mas ótimas lojas, estamos falando exatamente de quantas ótimas unidades? Aproximadamente 20 (hoje existem 15 abertas).

Quais são os atrativos e diferenciais que essas poucas lojas terão? Gastronomia, programação cultural com qualidade diversidade, multicanalidade, interação com o mobile, como a possibilidade de fechar compras na loja pelo celular, com todo o conforto e segurança, serviço ágil de atendimento ao cliente e, importante, um catálogo com 26 milhões de produtos à disposição do nosso público.

Foi um erro a incorporação da Fnac? Se pudesse voltar atrás, teria desistido dela? Não foi um erro, mas o cenário do Brasil se deteriorou num ponto tal que inviabilizou a continuidade do negócio. Não existe negócio sem risco, no qual só se acerta. Fizemos uma tentativa e não logramos atingir o que projetamos inicialmente, mas, o aprendizado foi muito válido. Ele nos tornou mais fortes e mais preparados para o futuro.

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Como será o mercado editorial daqui a 10 anos? Como a Livraria Cultura estará dentro dele? O mercado está se reinventando e evoluindo. Estamos num momento de crise, mas tenho certeza de que mudanças ocorrerão para melhor. Não tenho dúvidas de que o mercado irá crescer junto com o Brasil e nós continuaremos a ser uma empresa muito importante no segmento. Não sei se a maior, mas, com certeza, uma das melhores.

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