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Produção industrial tem maior tombo mensal desde a greve dos caminhoneiros

Recuo foi de 9,1% em março em relação a fevereiro; resultado de abril deve ser ainda pior, pois diferente de 2018, não se trata de um fato pontual

Por Felipe Mendes Atualizado em 5 Maio 2020, 13h17 - Publicado em 5 Maio 2020, 10h50

A pandemia do novo coronavírus começou a refletir nos números da atividade econômica brasileira. Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgados nesta terça-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, a produção industrial declinou 9,1% em março, na comparação com o mês de fevereiro. É o pior desempenho para o mês de março da série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. Além disso, trata-se da queda mensal mais acentuada desde maio de 2018, quando a atividade do setor afundou 11%, duramente afetado pela greve dos caminhoneiros. Na comparação com março do ano anterior, a queda foi de 3,8%. O cenário, inclusive, pode se deteriorar ainda mais nos dados de abril, porque os efeitos de distanciamento social, que fizeram a demanda por diversos produtos despencar, com decretos municipais e estaduais, começaram a valer apenas na metade do mês de março.

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Com a derrocada do índice da atividade em março, a produção industrial passou a acumular uma retração de 1,7% nos três primeiros meses do ano — se comparado aos últimos três meses de 2019, a queda é de 2,6%. No acumulado de 12 meses, por sua vez, o declínio é menor: de 1%. “O impacto da pandemia fica evidenciado quando se compara com o mês de fevereiro, já que a taxa é fortemente negativa e representa a queda mais intensa desde maio de 2018. E não apenas pela magnitude da taxa, mas também pelo alargamento por diversas atividades, incluindo todas as quatro categorias econômicas e 23 das 26 atividades pesquisadas”, analisa André Macedo, gerente da pesquisa.

Como não é um movimento pontual, como na greve dos caminhoneiros, a tendência é de quedas acentuadas nas próximas pesquisas. Além disso, a enfermidade afetou de maneira diferente as diversas cadeias da indústria: enquanto o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias registrou uma queda acachapante, de 28%, o ramo de alimentos obteve um declínio em menor intensidade em relação a fevereiro (-3,8%).

“Trata-se de um segmento com uma importância para a manutenção do consumo das famílias. E há até atividades com comportamento positivo, como perfumaria, produtos de limpeza e higiene pessoal, que também vão nessa esteira das necessidades básicas das famílias. Mas o que se verifica no conjunto do setor industrial é um comportamento negativo relevante e, mais do que isso, uma disseminação de resultados negativos por várias atividades”, diz Macedo. Com o resultado de março, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de agosto de 2003, ficando 24% abaixo do pico histórico, alcançado em maio de 2011 – em fevereiro essa distância era de 16,4%.

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Na comparação mês a mês, além do setor automotivo, os destaques negativos em março foram os ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,8%); couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%); móveis (-27,2%); produtos têxteis (-20,0%); bebidas (-19,4%); produtos de borracha e de material plástico (-12,5%) e produtos de minerais não-metálicos (-11,9%). Por outro lado, as poucas altas registradas foram nos segmentos de impressão e reprodução de gravações (8,4%); de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (0,7%) e de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (0,3%). “O resultado veio ligeiramente pior do que esperávamos e sugere que o PIB deve recuar, de fato, 5% este ano”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Nécton.

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