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Previdência ou morte

Flávio Rocha, dono da Riachuelo e aliado de Bolsonaro desde a primeira hora, afirma que desidratação da reforma da Previdência selaria fracasso do governo

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 abr 2019, 07h00 - Publicado em 12 abr 2019, 07h00

Um dos donos da Guararapes, o maior grupo de moda do Brasil, conhecido pela marca Riachuelo, Flávio Rocha, de 61 anos, foi um dos primeiros empresários a declarar publicamente apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, em agosto. A partir daí, ele se tornou um de seus principais interlocutores no setor privado, tanto que chegou a ser cotado para vice na chapa presidencial. Participou também da fundação do Movimento Brasil 200, um grupo de executivos que tomou para si o papel de influenciar o Congresso no avanço de uma agenda que combina a diminuição do Estado com uma pauta conservadora nos costumes. Mas não se trata de um apoio irrestrito. Rocha não mede palavras ao descrever as consequências de uma eventual desidratação ou da rejeição da reforma da Previdência: tal hipótese selaria o fracasso do governo. O empresário conversou com VEJA em sua casa em São Paulo.

Otimismo

“Acho que o governo acerta ao priorizar a mãe de todas as reformas, que é a da Previdência. Vemos nas entrelinhas as sinalizações de uma nova visão do Brasil, redefinindo os propósitos do Estado. Nunca existiu um número tão grande de eleitores em torno de ideias como um Estado menor, a redução do gasto público, a melhora do ambiente de negócios e a luta contra o ‘marxismo cultural’. Houve uma mudança na mentalidade da opinião pública. O meu otimismo tem como base essa mudança, muito mais do que o resultado episódico da eleição.”

Liberal-conservadorismo

“Alguns amigos empresários e eu fizemos um diagnóstico, que se mostrou preciso, de que o futuro presidente do Brasil seria não apenas um liberal na economia mas também um conservador nos costumes. Fundamos o Movimento Brasil 200 como uma iniciativa empresarial, porém rapidamente percebemos que os nossos aliados vinham de setores mais amplos. A própria classe empresarial já vinha dividida entre aqueles que são empresários de verdade, de mercado, e os que são do conchavo, do crony capitalism (capitalismo de compadrio), que vivem como um apêndice do Estado. Essa divisão está mais clara na sociedade. O Estado chegou a um estágio de hipertrofia que fez a carruagem parar. E aí os 98% da população que puxam a carruagem se rebelaram contra uma aristocracia minoritária que se apropriou do Estado para bancar seus privilégios, suas aposentadorias precoces, seus supersalários.”

Candidatura própria

“Eu estava disposto a sair da zona de conforto, mesmo no apogeu da minha vida empresarial. Mas, quando percebi que o candidato Bolsonaro havia assumido compromissos com ideias boas na economia, de reduzir o tamanho do Estado, e abraçado a questão dos valores, minha candidatura deixou de fazer sentido. Iríamos canibalizar o mesmo eleitor. E passei a torcer por ele. Não tenho projeto político.”

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100 dias de Bolsonaro

“Eu não sei se este governo vai dar certo ou não. Sou otimista, acho que vai dar. A hipótese remota de a nova reforma da Previdência não ser aprovada, ou ser aprovada de forma tímida, selaria o fracasso do governo. O desejo de renovação trouxe um ônus. As pessoas em Brasília estão aprendendo a governar. A comunicação precisa melhorar, palavras mal colocadas reverberam em uma parcela da imprensa que não tem simpatia pelo governo. Isso atrapalha.”

“Falta engajamento ao empresário brasileiro no debate público. Ele tem um papel na interlocução entre a economia e a política. É ele quem encosta a barriga no balcão”

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Espaço para melhora

“É fundamental o que eu chamo de troca do chip do presidente. Uma coisa é o chip da lógica de campanha, outra é o chip da lógica de governo. A lógica de campanha mostrou-se muito eficiente em unir aqueles que estavam contra um inimigo comum, que era o estatismo, o intervencionismo. Isso aglutinou um grupo poderoso no primeiro turno. No segundo turno, já se tornou uma tática perigosa, porque é necessário contar com um leque mais amplo de forças. Mas a lógica de governo, principalmente para aprovar reformas que envolvem emendas constitucionais, exige estabelecer uma quase unanimidade.”

Prioridades

“Estive com o presidente Bolsonaro para anunciar a ele a criação de nossa frente parlamentar, que já nasceu com o apoio de 230 deputados. O Luciano Hang (dono da Havan) e eu dissemos a ele que os nossos amigos agora são aqueles que compartilham do mesmo propósito. E a prioridade número 1, 2 e 3 é a nova Previdência. Sob essa lógica, muitos desses ruídos de comunicação não teriam acontecido. Temos de tratar como aliado quem é a favor da reforma, começando por Rodrigo Maia, presidente da Câmara.”

Empresário-ativista

“Falta engajamento ao empresário brasileiro. Ele tem um papel a desempenhar na complexa interlocução entre a economia e a política. É ele quem encosta a barriga no balcão, quem testemunha o desenrolar da sabedoria suprema do livre mercado. Mas, quando ele se omite, essa interlocução se burocratiza. A representação empresarial também se deformou. O excesso de intervenção do Estado levou a entidade de representação empresarial a especializar-se em olhar para a árvore, e não para a floresta. Cada entidade está focada na sua micropauta, na sua isenção tributária, no seu subsídio. O papel do empresário, que é zelar pelo ecossistema, pelo ambiente de negócios, ficou em segundo plano.”

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Gigantismo do Estado

“O Estado brasileiro tende a agigantar-­se, intervém em tudo, regula o que estiver ao seu alcance. Outro dia, os ministros do Supremo Tribunal Federal estavam debatendo se um consumidor poderia entrar no cinema com uma pipoca que comprou em outro lugar. Isso mostra o grau de judicialização e de intervenção do Estado a que se chegou. O Estado grande tem ampla capacidade de fazer maldades, de perseguir quem discorda. Isso reduz a participação do empresariado no debate, porque há o medo de retaliação.”

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

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