Previdência é insuficiente para gerar crescimento do Brasil, diz FMI
Vice-diretor da entidade, no entanto, afirma que proposta da reforma é "forte" e "necessária", em evento em São Paulo
Apenas a reforma da Previdência não é suficiente para gerar crescimento para o Brasil, segundo o vice-diretor do departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Krishna Srinivasan.
Segundo o executivo, a reforma enviada pelo governo ao Congresso é “forte” e “necessária”, mas “insuficiente” sozinha para gerar crescimento. Sem as reformas no sistema bancário, tributário e na infraestrutura, por exemplo, as mudanças no sistema de aposentadoria não seriam suficientemente efetivas, de acordo com Srinivasan, que participou, nesta sexta-feira, 15, de evento na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.
Se a proposta atual for aprovada na íntegra, o órgão estima que já em 2023 as contas públicas estarão no limite. Na prática, a reforma ajudaria a não piorar a situação, mas também não melhoraria.
Na parte fiscal, o FMI identificou o ano de 2008, da crise econômica mundial, como o ponto de partida da queda mais significativa do balanço primário do Brasil e um aumento vertiginoso da dívida pública, principalmente após 2014. Apesar desse desempenho, Srinivasan elogiou a PEC do Teto de Gastos, aprovada no governo Temer, que não permite um crescimento das despesas acima da inflação.
Sobre as soluções para esses problemas, na relação impacto econômico e apoio público, a proposta mais efetiva no momento é a reestruturação do sistema bancário, segundo a entidade. Entre os principais problemas apontados nessa área é a concentração bancária e a dificuldade em conseguir crédito.
Os cinco problemas do país
Srinivasan e Antonio Spilimbergo, chefe da missão do FMI no Brasil, estiveram na FGV para apresentar um livro do órgão internacional sobre a economia do país: “Brazil: Boom, Bust and the Road to Recovery” (Boom, fracasso e o caminho para a recuperação).
O livro aponta cinco problemas gerais do país: economia fechada, déficit de infraestrutura, alocação insuficiência de crédito, estado ineficiente e situação fiscal insustentável.
Segundo levantamento do órgão, o Brasil cresceu em média 2,6% ao ano desde 1981. Para eles, o porcentual é baixo comparado a outros países, principalmente considerando o crescimento populacional que o país teve.
“O país não aproveitou o crescimento global como a China e Índia, porque ainda é muito fechado”, disse Srinivasan. “É preciso abrí-la mais, porém com certeza de que as pessoas afetadas por isso vão conseguir se manter”, alertou ele.
Os executivos destacaram ainda o papel da corrupção na situação do país. Dos 21 capítulos do livro, três são dedicados ao assunto. “Aprendemos com a Itália que a corrupção gera grandes impactos macroeconômicos”, comparou Spilimbergo, fazendo referência aos casos no final dos anos 1990 e começo dos 2000.