Por que os economistas não festejam o baixo desemprego no primeiro trimestre
Alta taxa de informalidade reflete geração de empregos de má qualidade e dificulta crescimento da economia, segundo analistas

A taxa de desemprego encerrou o primeiro trimestre em 7%, o menor nível para o período já registrado pela série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. Mas, por trás da aparente boa notícia, os economistas destacam motivos de preocupação. O primeiro é a elevada taxa de trabalhadores informais na conta. Dos 102,5 milhões de indivíduos ocupados no fim de março, 38,9 milhões atuavam sem nenhum tipo de formalização – o equivalente a 38% do contingente.
É verdade que essa fatia vem caindo. No primeiro trimestre do ano passado, era de 38,9%, e, no último trimestre de 2024, estava em 38,6%. Mas, para os economistas que já se manifestaram sobre os números divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira 30, o patamar de março ainda é elevado e cria problemas para empresas que dependem do consumo interno e para o desenvolvimento geral do país. “Esse tipo de trabalho precário impede que o consumidor tenha o poder de compra necessário para sustentar a demanda interna e afeta diretamente a previsibilidade de receita das empresas”, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
De acordo com o IBGE, o maior contingente de informais é formado por trabalhadores que atuam por conta própria, mas que não possuem um CNPJ, o cadastro que indica que possui uma empresa e pode, portanto, emitir notas fiscais. Esse grupo somava em março 19,1 milhões de pessoas. Em segundo lugar, vêm os trabalhadores informais que atuam em empresas privadas, isto é, não têm carteira assinada, com 13,5 milhões de indivíduos.
Empregados domésticos sem carteira assinada acrescentavam mais 4,3 milhões à conta, seguidos por 1,2 milhão de trabalhadores familiares auxiliares (pessoas que ajudam na atividade econômica de um parente, como um filho que ajuda os pais em seu comércio, sem possui vínculo empregatício). Fechando a lista, o IBGE registrou ainda 816 000 empregadores que não possuíam CNPJ em março. Como se sabe, o emprego informal tende a ser mais instável e dificulta a obtenção de crédito, travando o consumo das famílias. “O aumento da informalidade e a falta de estabilidade no mercado de trabalho não oferecem uma base sólida para o crescimento do consumo”, afirma João Kepler, executivo-chefe da Equity Group, empresa de investimento em startups.
Apesar da má qualidade dos empregos gerados no primeiro trimestre, o impacto dos números divulgados pelo IBGE não devem alterar o roteiro da próxima reunião do Comitê de Política Monetária(Copom) do Banco Central (BC), marcada para os dias 6 e 7 de maio. “O mercado de trabalho aquecido ajuda a estimular a atividade econômica e o PIB, mas dificulta o controle da inflação, especialmente a de serviços”, diz Claudia Moreno, economista do C6 Bank. “Isso reforça nossa expectativa de que o Copom mantenha o plano de voo já sinalizado e aumente os juros em 0,5 ponto percentual, para 14,75%, na reunião da semana que vem.”