Por que os combustíveis não param de aumentar?
Redução dos investimentos globais na produção de petróleo estrangularam a oferta, e inflação criou problemas ainda maiores

A Petrobras realizou um novo reajuste nos preços dos combustíveis nesta sexta-feira, 17, aumentando a gasolina em 5% e o diesel em 14%. O governo vinha tentando congelar esses preços e evitar novos reajustes para não gerar pressão inflacionária, em um momento estratégico para Jair Bolsonaro, que busca a reeleição à presidência. Os aumentos, no entanto, não param. No ano passado, foram realizados treze reajustes. Neste ano, já somam três para a gasolina e a quarta alta do diesel.
O grande motivo para essas altas que não param é a defasagem do preço em relação ao do mercado internacional. A gasolina estava defasada em 18% e o diesel em 14%, segundo a Associação Brasileira de Importadores e Combustíveis (Abicom). “O ponto principal do ajuste é aproximar os preços internacionais para que as empresas de fora continuem a exportar para o Brasil. Claro que a Petrobras atingirá uma maior margem de lucro, mas o foco é o Brasil não ter problemas com desabastecimento”, diz Luiz Carlos Corrêa, sócio da gestora Nexgen Capital.
Embora os países estejam caminhando para um maior aperto monetário com a elevação dos juros para controlar a inflação, a expectativa de menor demanda ainda não é suficiente para a oferta dar conta. O mercado vinha esvaziando os seus investimentos na produção de petróleo por conta do apelo ambiental, e especialistas já alertavam sobre os perigos desses desinvestimentos nos combustíveis fósseis.
A guerra no Leste Europeu, onde países como Rússia era um dos grandes fornecedores mundiais de petróleo, apenas adiantou esse cenário de estrangulamento da oferta. Além disso, a perspectiva de retomada da atividade chinesa adicionou mais pressão de demanda pelo produto. “A guerra foi uma prova cabal de que ainda não estamos preparados para uma transição energética porque não possuímos um substituto”, comenta Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. O mundo inteiro seguia contra a produção de energia suja, o que culminou na diminuição da produção de petróleo em nível global.
Como a Petrobras segue a política de preços do mercado internacional, o aumento do barril e as flutuações do câmbio impactam diretamente nos preços praticados aqui, e a escalada da inflação global parece não deixar outra alternativa a não ser os reajustes. Nos Estados Unidos, o galão da gasolina já passa de 5 dólares o litro. “A ação diminui a defasagem frente aos preços internacionais, o que, via de regra, é positivo para as finanças da companhia, mas, em contrapartida, entendemos que foi desenvolvida por lideranças que estão de saída da companhia, o que impede a dissolução das assimetrias referentes ao tema para os próximos meses”, avalia Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Para os especialistas, a medida que altera o ICMS sobre os combustíveis realmente pode gerar um alívio inflacionário no curto prazo, mas, se o petróleo continuar elevado e houver uma desvalorização cambial com a chegada das eleições, o efeito poderá ser anulado. Segundo o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, com a perda de arrecadação e uma compensação proposta aos Estados por isso, o ambiente fiscal tende a se deteriorar. Tal cenário pode levar a uma fuga de capitais do Brasil, elevando o dólar, e tendo o mesmo efeito de aumentar a inflação e a cotação do petróleo em reais.