Por que novos recordes das big techs podem ser mais raros em 2021
Analistas acreditam que, em médio prazo, as empresas que dispararam podem cair em 2021, enquanto setores afetados pela pandemia devem se recuperar
Apesar das subidas e descidas agudas das bolsas em 2020, o ano foi bom para quem soube surfar nas grandes ondas do mercado financeiro americano. A bonança foi tanta que, entre os investimentos brasileiros que mais tiveram lucro, estão justamente os que apostaram nas empresas de lá. Depois dos cerca de 3 trilhões de dólares injetados na economia americana pelo governo, os principais índices de Nova York encerraram o ano em patamares recordes, com o S&P 500 em alta de 16% e a Nasdaq, a bolsa de tecnologia, em surpreendentes 43%.
Após esse rali impulsionado pelo excesso de liquidez na pandemia, uma dúvida de milhões de dólares intriga os investidores neste começo de ano: será que as empresas de tecnologia terão fôlego para bater novos recordes em 2021? Com a vacina e o fim do período de confinamento, o horizonte se mostra menos favorável para essas companhias e muitas gestoras e corretoras já mudaram as recomendações de suas carteiras baseadas no “rotation”, o movimento de rotação das ações que se iniciou no último trimestre de 2020, com as notícias mais otimistas sobre o possível fim da pandemia.
Para muitos investidores, os setores de aviação, petróleo, serviços e entretenimento, os mais impactados pela pandemia, têm mais chances de se recuperar em 2021. Um estudo exclusivo da Avenue a qual VEJA teve acesso mostra, por exemplo, que as ações da Royal Caribbean tiveram um ganho de 9,2% no quarto trimestre, mas enceraram o ano em queda de 47,1%. Já a Boeing, empresa com o pior desempenho entre as 30 ações do Dow Jones, subiu 33% no último trimestre e no ano acumulou queda de 33,4%. “Nós vemos esse movimento cada vez mais forte, ainda que ele demore para acontecer. Para médio prazo, em 2021, com a vacinação ao redor do globo e a reabertura das economias, os setores muito afetados pela Covid-19 podem se beneficiar”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
E, como é esperado em um movimento de rotação, as ações que subiram muito em 2020 podem cair ou desacelerar em 2021, como das empresas Tesla, Moderna, Peloton e Zoom. “Para atender a sua expectativa de preço, a Tesla, que é uma excelente empresa, precisa atingir todas as metas nos próximos quatro anos e sabemos que isso não é tão simples de acontecer, imprevistos acontecem. Já a Moderna entra no desenvolvimento de outras drogas e terapias, o que leva mais tempo para acontecer”, diz Castro Alves.
Outro ponto que a empresa chama atenção é que ações como as de Apple, Amazon e a Microsoft bateram recordes em 2 de setembro, enquanto as do Facebook e da Netflix os atingiram em julho e agosto, e desde então “nenhum chegou perto de atingir novos máximos”. Apesar das incertezas, as apostas continuam e quem souber identificar as novas oportunidades, com olhar atento ao potencial de valorização das empresas, certamente comemorará novos lucros.