Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Por que Guedes pode antecipar lucros do BC e Dilma não podia, em 2016

Ministro da Economia repete ação tomada pela ex-presidente; diferentemente do que aconteceu há 4 anos, momento é de urgência e não há maquiagem fiscal

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 Maio 2020, 17h08 - Publicado em 26 Maio 2020, 16h59
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Dilma Rousseff, enquanto presidente da República, lançou mão de diversas medidas para maquiar as contas públicas. Uma delas, o uso de recursos dos bancos públicos para financiar o governo — as pedaladas fiscais —, custou o mandato. Mas outra ação criou polêmica em 2016. Com a alta do dólar, o Banco Central gerou um lucro extraordinário naquele ano, e o governo quis antecipar o pagamento desses recursos para cobrir o rombo das contas públicas. A ideia foi defenestrada pelos economistas e taxada como mais uma das artimanhas do rol de planos malignos que foram chamados de “contabilidade criativa”. Em 2020, o governo de Jair Bolsonaro deve lançar mão da mesma ideia. O comandante da área econômica, o ministro Paulo Guedes, quer usar 500 bilhões de reais “lucrados” pelo Banco Central devido à desvalorização do real para cobrir o Tesouro e ajudar a combater a crise. A medida é a mesma, mas o propósito e o motivo são diametralmente opostos.

    ASSINE VEJA

    Coronavírus: ninguém está imune
    Coronavírus: ninguém está imune Como a pandemia afeta crianças e adolescentes, a delação que ameaça Witzel e mais. Leia na edição da semana ()
    Clique e Assine

    Aqui estão as razões que demonstram — além do motivo de ser válida a antecipação do lucro agora — por que isso é tão necessário no momento:

    1: Não há maquiagem das contas públicas — ao menos, até onde se sabe. O motivo para Dilma querer os lucros do BC era para fingir que estava alcançando a meta de superávit primário daquele ano. Depois, descobriu-se que as contas estavam tão estouradas que mesmo que os recursos do BC entrassem no caixa do governo, não fariam diferença. O tamanho do rombo só foi descoberto após o afastamento da mandatária, em abril de 2016. Naquele ano, o governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência) registrou um déficit primário de 154 bilhões — o maior da história. Agora, não há qualquer motivo para se maquiar as contas públicas. Sabe-se que o déficit nominal chegará próximo a 1 trilhão de reais. E os 500 bilhões do BC vêm unicamente para dar fôlego ao Tesouro, que precisa lançar mão de recursos para garantir o pagamento de programas como o Auxílio Emergencial. “Não se trata de contabilidade criativa, pois o governo não está tentando encobrir. Até porque, a meta fiscal está em suspenso. No contexto atual sendo diferente da Dilma, não há nenhum problema de ordem técnica para fazer a transferência”, afirma a economia Monica de Bolle, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins.

    Continua após a publicidade
    dilma
    CRIATIVIDADE — Dilma Rousseff: maquiagem das contas públicas culminaram no processo que a tirou do Planalto (Nelson Almeida/AFP)

    2: Existe previsão legal; antes não — Em 2019, foi aprovada a Lei 13.820, que prevê que em condições de severas restrições de liquidez para a rolagem da dívida pública o Conselho Monetário Nacional (CMN) pode autorizar a transferência do lucro cambial para o Tesouro. Há, portanto, clara previsão legal para a transferência dos recursos — o que não havia em 2016. Além disso, não há muitas discussões sobre a urgência gerada pela pandemia de Covid-19.

    3: O governo está com dificuldade para se financiar, o que não acontecia antes — Há quatro anos, o sistema financeiro nacional estava bem diferente do atual. A taxa Selic, que remunera os títulos públicos, estava em exorbitantes 14,25% ao ano — fruto da administração inconsequente do governo da época. Desde a queda, paulatinamente isso vem mudando. Apesar da evolução, a pandemia pegou em cheiro o Brasil e trouxe vários problemas econômicos. Um deles é que o Tesouro tem enfrentado dificuldade para rolar seus títulos públicos — tanto que, apesar de a Selic estar a 3% ao ano, papeis com prazos mais longos estão sendo negociados com juros de mais de 8% ao ano. Essa diferença representa o quanto o mercado está reticente com o futuro das contas públicas no Brasil. Para piorar, há um volume grande de vencimentos no início de 2021. “Ao receber esse dinheiro, ou o Tesouro o deixará na conta única, como munição a ser exibida ao mercado —  caso não aceitem rolar a dívida, o governo mostra que tem recursos para pagar — e reduzir o prêmio pedido pelo mercado, ou o Tesouro vai usar o dinheiro de imediato”, afirma Marcos Mendes, economista e professor do Insper. “Comparando a situação atual com o período Dilma, havia à época, uma deliberada decisão de expandir gastos primários e se buscava toda forma possível de financiar esses gastos. Uma das formas adotadas foi gastar em despesa primária dinheiro do orçamento previamente alocado para pagar juros e amortização da dívida, e buscar no BC dinheiro para quitar a dívida. Ou seja, foi uma escolha do governo de então gastar mais e buscar uma saída para financiar a dívida que gerou”, conclui.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.