Por que alta histórica do ouro é mau sinal para o mundo
Investimento em ouro é a "última alternativa" em períodos de crise por ser considerado mais seguro
A cotação do ouro renovou a máxima registrada nos dias posteriores à invasão da Ucrânia, ao fechar a última sessão, na quinta-feira, 13, em 2.055 dólares para cada onça. Desde outubro do ano passado, o ouro testemunha uma “nova pernada” no rali de compra, ascendendo a mais de 22%.
A alta é péssima notícia para o mundo, com sinais cada vez maiores de recessão. A crise começou sobretudo após a quebra do Silicon Valley Bank, banco focado em empresas de tecnologia nos EUA. Após o caso do SVB, a confiança em todo o sistema bancário foi colocada em xeque. O risco respingou até mesmo no Credit Suisse na Europa.
Os riscos não param por aí. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou nesta semana que um pouso suave das economias globais, após ciclo de aperto monetário, é cada vez mais improvável. Ou seja: recessão. “Ouro é a última instância dos investidores em períodos de crise. É alternativa segura ao dólar, iene ou franco suíço”, afirmou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
O sinais de descompasso também podem ser vistos na bolsa norte-americana, que segue desempenhando com relativo otimismo, apesar de a curva de juros projetar um corte mais abrupto do que o anteriormente calculado. É a calma antes da tempestade. “É um desequilíbrio, dados apontam para uma economia desacelerando, mas autoridades monetárias norte-americanas continuam falando em manter juros elevados por algum período”, disse Rostagno.
O rali pelo ouro como alternativa ao dólar casa com a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que questionou a utilização da moeda como padrão para transações comerciais entre os países. “Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade? Hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando poderia exportar com sua própria moeda e os bancos centrais poderiam cuidar disso. Todo mundo depende de uma única moeda, e tem muita gente mal acostumada”, questionou o presidente. Para Rostagno, a fala não passa de retórica para se aproximar da China e não deve ter efeito prático. “Você quer negociar na sua moeda? Então tenha uma economia robusta, com instituições robustas, para que os investidores tenham segurança”, afirma o economista.