Por que a mudança na Petrobras é um sinal nefasto para o mercado
Demissão de Jean Paul Prates consolida um dos maiores receios dos investidores: o aumento da ingerência política na petroleira
O abrupto anúncio de troca na presidência da Petrobras manda um péssimo recado ao consolidar um antigo receio dos investidores: a ingerência política na estatal. Com o anúncio já confirmado pela empresa da saída de Jean Paul Prates do cargo de CEO, conforme desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gestores que detêm o papel ainda preferem observar os próximos passos da nova administração, mas muitos já se reservam ao direito de ficar longe dos papéis da companhia.
No pré-mercado, os papéis da empresa negociados na bolsa de Nova York chegaram a recuar 10%. Por volta das 8h27, a queda era de 8,39%.
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Segundo um gestor de um grande fundo multimercado que falou a VEJA condição de anonimato, a companhia manda um sinal ruim ao mercado, que vai cobrar seu preço em meio às incertezas. “É razoável ficar ‘under’ [underweight, o equivalente à venda de ações] na empresa agora”, afirma. Desde os primeiros sinais de tentativa de ingerência do governo na Petrobras, com discussões sobre preço da gasolina e depois os dividendos, esse profissional já carregava uma posição vendida na companhia ou seja, que ganha com a queda das ações. Essa posição segue na carteira.
Outro profissional da mesa de ações de uma grande gestora multiproduto concorda que o sinal para o mercado de capitais é bastante negativo pelo modo como o processo foi conduzido e destaca que a grande preocupação é sobre a continuidade da agenda de desinvestimentos e da política de preços da empresa, defendida pelo governo Lula. “Independentemente do que se possa dizer sobre a Magda [Chambriard, indicada ao cargo de CEO pelo governo], se estão mudando, é porque Lula quer algo diferente, em um caminho mais intervencionista, e não menos”, diz.
Para um gestor de uma grande família de fundos de ações com posição na estatal, a mesma novela vista no passado volta a perturbar os investidores, com “boas chances” de haver troca também do diretor financeiro. No entanto, as políticas da empresa já estão estabelecidas e muito do escopo dela está definido em estatuto. “Há chance de estar tudo igual daqui a três meses, mas precisaremos acompanhar, não temos informação de nada”, afirma, reforçando que, em termos operacionais, a companhia é sólida e que, por ora, não irá mexer no nível de exposição dos fundos às ações.
Nova gestão
Para o sócio da GTF Capital, Felipe Corleta, apesar da comprovada experiência da nova presidente no setor de petróleo, uma vez que Chambriard foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a executiva carrega a marca de ter liderado a entidade durante o governo de Dilma Rousseff, desaprovado por boa parte dos investidores. Além disso, o elemento surpresa é algo que deve levar o mercado a enfrentar volatilidade, com pressão sobre as ações, numa tentativa de precificar os riscos e as incertezas à frente.
“O investidor só vai se acalmar após um posicionamento claro da nova presidente em relação a temas-chave, como dividendos e investimentos”, afirma. “Outra dúvida é sobre o alinhamento que Chambriard tem com o BNDES, o que sugere, numa primeira leitura, uma Petrobras com capex [investimento] mais elevado.”
Se tiver o nome aprovado pelo Conselho de Administração da estatal, Chambriard será a sexta presidente em três anos. Durante o governo Bolsonaro, foram quatro presidentes, sendo um deles interino. Roberto Castello Branco, primeiro indicado de Bolsonaro ao cargo, ficou na cadeira por cerca de dois anos, mas foi trocado pela ingerência política do governo anterior na companhia. Prates, o primeiro indicado de Lula no atual governo durou um ano e quatro meses na cadeira da estatal.