Perfil no Facebook reúne vagas bizarras de emprego
Há até vaga que exige que o candidato tenha o IMC (índice de massa corporal) dentro do padrão da OMS (Organização Mundial da Saúde)
Você aceitaria trabalhar em troca de moradia? E se o empregador exigisse um determinado IMC (índice de massa corpórea) para ocupar a vaga? Toparia fazer um “estágio em cozinha” de dez horas por dia sem receber nada por isso?
Propostas de trabalho deste tipo foram reunidas no perfil Vagas Arrombadas no Facebook. São vagas que pagam salários inferiores ao piso profissional da categoria, exigem muitas horas de trabalho oferecem poucos ou nenhum benefício.
A página foi criada pelos amigos Tiago Perrart, 27, diretor de arte e que trabalha como freelancer, e Daniel Martins Alves, 31, atualmente desempregado. A ideia de reunir esses empregos surgiu quando eles procuravam emprego e se deparavam com requisitos e salários fora do padrão.
“Essas vagas assustam muito e, infelizmente, estão inseridas neste contexto de busca por uma recolocação. O que mais assusta é a quantidade, parece que estão se tornando cada vez mais comuns. Nosso site serve também para as empresas pensarem duas vezes antes de divulgarem uma vaga ruim”, diz Alves.
Criada no início deste mês, a página possui mais de 50 mil curtidas. Depois do sucesso no Facebook, os dois administradores lançaram um perfil no Twitter.
“As vagas sinalizam que as empresas querem uma pessoa que acumule funções. O selecionado deverá desempenhar o trabalho de três ou quatro pessoas. As empresas querem pagar menos que o piso, não oferecem benefício, nem citam o vale-transporte”, afirma Perrart.
Segundo eles, há muita interação com os usuários que curtem a página. Recebem cerca de 200 indicações de vagas esdrúxulas por dia e tentam checar a veracidade. Na semana passada, chegaram a postar uma no Facebook, mas logo depois descobriram que era falsa e a removeram. Quando desconfiam de um print, pedem o link para comprovação.
Já foram feitos mais de 70 posts, com uma vaga mais bizarra do que a outra. Uma pessoa, por exemplo, tinha uma oferta de freelancer para fotógrafos. A proposta era fotografar de cem a 120 obras de arte. A remuneração? Nenhuma. Dizia apenas que era uma oportunidades para criar um portfólio.
Num outro post, uma agência procurava um analista de mídias sociais e tinha uma vaga de estágio de quatro horas para este cargo. Entretanto, exigia de quem não cursasse publicidade e propaganda uma pós-graduação em marketing digital.
Há até restaurante que exige que o candidato não tenha tatuagem nem brincos exagerados, seja heterossexual e que possua o IMC (índice de massa corporal) dentro do padrão da OMS (Organização Mundial da Saúde). A Ciaterh, companhia de terceirização de RH que tinha a sua marca estampada nesta vaga de emprego, disse que foi vítima de hackers.
“Infelizmente sofremos um ataque de hacker há muito tempo, que inseriu na internet esse anúncio de vaga que nunca existiu. Não trabalhamos com recrutamento e seleção de pessoal, o que já denota a não veracidade desta publicação. Note ainda que o texto criado para esse anúncio é 100% ilegal”, afirmou a Ciaterh em nota enviada para VEJA.
Até a Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo foi parar no ‘Vagas Arrombadas’ com uma proposta para professor com título de mestre ou doutor com salário de 1.322,41 reais a 1.849,66 reais para uma jornada semanal de 12 horas. Em nota enviada para VEJA, a instituição ressaltou que trata-se de contratação de um professor temporário, não efetivo.
“A carga horária é distribuída em 8 horas de aula e 4 horas de atividade extraclasse (preparação de aula, correção de provas e trabalhos etc.). Cabe esclarecer que as três disciplinas às quais se refere o programa não serão ministradas simultaneamente – elas serão distribuídas ao longo dos dois semestres de contrato, nos períodos matutino e noturno”, diz a USP.
A página já sofreu ameaças de uma empresa que não gostou de ver o seu nome envolvido na polêmica sobre a qualidade dos empregos oferecidos. Os administradores resolveram, então, apagar o post.
A VEJA entrou em contato com outras empresas que aparecem em alguns posts, mas essas não responderam até a publicação desta nota.
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