Pandemia mudou relação com lar e estimulou reformas, diz CEO da Telhanorte
Com a disseminação do novo coronavírus, o brasileiro passou mais tempo em casa, o que impulsionou as vendas de materiais de construção em 2020
Juliano Ohta, CEO da Telhanorte Tumelero, divisão de varejo especializado em materiais de construção do grupo Saint-Gobain no Brasil, tem motivos para comemorar. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o segmento de materiais de construção é um dos que mais crescem desde março, início da disseminação do novo coronavírus no país. Em agosto, por exemplo, a variação positiva para as vendas frente ao mesmo mês de 2019 foi de 24,1%. Com as medidas restritivas, as pessoas passaram a trabalhar e estudar de forma remota. E decidiram investir para melhorar o ambiente onde vivem. Com isso, o consumo de itens para reformas e decoração disparou, o que tem sustentado um crescimento acelerado desse mercado. Não tem sido diferente com as redes Telhanorte e Tumelero, que somam 72 operações físicas espalhadas por São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. “Nosso faturamento tem crescido entre 30% e 40% em relação ao que vendíamos antes da pandemia”, diz Ohta. “O consumidor pegou o hábito de comprar pela internet. Ele gostou dessa conveniência.”
O mercado da construção passa por um novo boom. Tanto a construção civil como as reformas para o lar cresceram durante a pandemia. Como isso impactou o negócio da Telhanorte? Tivemos um impacto negativo no começo da pandemia. Por conta das medidas restritivas, a circulação de pessoas foi reduzida. Mas, a partir do meio de abril, elas começaram a consumir muito material para reparo e manutenção do lar. Como estavam ficando mais em casa, passaram a enxergar a necessidade de melhorar o ambiente. E consumiram mais itens de decoração, como quadros, retratos, papel de parede e tintas para pintura. Depois disso, em meados de maio, veio uma demanda forte de produtos para grandes reformas. Foi quando muitos prédios e condomínios começaram a ser erguidos também. Foi quando o boom do mercado começou realmente.
Qual foi o impacto do home office nesse movimento? Como as pessoas estão vendo que a pandemia vai durar mais tempo do que imaginavam e, por isso, vão passar mais tempo em casa, começaram a ver o lar de outra forma. Antes, elas tinham de encarar a parede do escritório da casa uma vez a cada ano. Agora, se deparam dez vezes ao dia. E não é só o trabalho em casa. A escola também passou a ser em casa, o lazer, o restaurante e até a boate. Por isso, as pessoas buscaram ressignificar o lar durante a pandemia. No início, houve uma procura muito grande por itens de manutenção e reparo. Mas, logo isso cresceu, impactando positivamente as vendas de produtos para decoração, jardinagem e organização da casa. Isso foi determinante para os nossos negócios.
E como tem sido esse crescimento? O nosso e-commerce, nos meses mais críticos da pandemia, cresceu três vezes em relação ao que vendíamos anteriormente. Hoje, mesmo depois da reabertura das lojas físicas, as vendas pela internet continuam crescendo. O consumidor pegou o hábito de comprar online. Ele gostou dessa conveniência. Ao todo, nosso faturamento tem crescido entre 30% e 40% em relação ao que vendíamos antes da pandemia.
O auxílio emergencial tem sustentado, de alguma forma, esse aumento de vendas de materiais de construção? Sim. Observando o comportamento do nosso consumidor durante a pandemia, notamos que o auxílio tem ajudado bastante. Mas não só isso. Com as taxas de juros ao menor nível histórico, as pessoas voltaram a considerar o mercado imobiliário como um bom investimento. Muitos aproveitaram a pandemia para reformar o apartamento, pensando em colocá-lo à venda depois. Isso também provoca uma demanda gigante por materiais de construção.
O preço de alguns produtos derivados do alumínio e do cobre avançou nos últimos meses. É sinal de inflação à vista? Esse movimento existe. Nós começamos a sofrer primeiro com o preço do cobre, porque o Chile, que é o maior produtor da matéria-prima no mundo, teve suas minas fechadas durante um tempo, o que fez a oferta cair muito. Quando a demanda aumentou, os sintomas de escassez do produto e a alta do dólar acabaram impactando os preços. Hoje, esse aumento é da ordem de 30%. Também houve uma alta considerável no valor dos produtos de PVC. O que nós temos feito para mitigar esse impacto para o consumidor é negociar ao máximo com os fornecedores. Mas a pressão é muito grande. Assim como está acontecendo inflação no mercado alimentar, no nosso setor não tem sido diferente.
Devido à incerteza, tem sido mais difícil para consumidores e pequenos empreendedores terem acesso ao crédito. As redes Telhanorte e Tumelero têm assumido esse risco? O crédito é um dos fatores que viabiliza a reforma. Nós temos assumido os riscos adicionais nas concessões de crédito. Não tem sido simples porque, de fato, o risco aumentou, mas estamos dando um voto de confiança, entendendo que o nosso cliente é um bom pagador. Além disso, decidimos aceitar mais amplamente o Construcard e o Cartão BNDES.
O alto índice de desemprego no país preocupa o seu modelo de negócio? A taxa de desemprego vai impactar a demanda de produtos. É algo que nos prejudica, sim. Mas, com esse novo boom do mercado imobiliário, essa possível perda de fluxo pode ser compensada em 2021.