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Os riscos e oportunidades da gestão Trump para a economia brasileira

O republicano defende uma agenda protecionista que isola os EUA de rivais como a China, beneficiando exportações brasileiras, mas gerando riscos cambiais

Por Luana Zanobia 6 nov 2024, 14h03

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos reacende antigos dilemas e cria novos desafios para a economia brasileira. O retorno do republicano ao poder traz à tona as memórias de seu primeiro mandato, quando políticas protecionistas, tensões comerciais e uma postura agressiva em relação à China impactaram o comércio global. Agora, diante de um cenário de dólar valorizado e um possível endurecimento nas relações comerciais, o Brasil, como grande exportador de commodities, enfrenta um período de incertezas.

O fortalecimento do dólar, que já vinha sendo observado com as especulações sobre uma possível vitória de Trump, atingiu uma nova alta após a confirmação dos resultados eleitorais, com a moeda americana chegando a R$ 5,86 durante a manhã desta quarta-feira. Apesar da valorização das últimas semanas, o dólar é negociado com bastante volatilidade e cedeu no início da tarde cotado a R$ 5,73. A moeda, no entanto, reflete mais a expectativa pela elevação da Selic, que será anunciado no fim desta tarde pelo Copom, do que pela cenário externo.

No ano, a moeda americana já valorizou 19,19% e a tendência, segundo especialistas, é que o dólar continue se valorizando nos próximos meses.

Essa valorização pressiona o poder de compra dos brasileiros e adiciona complexidade ao controle da inflação. Durante a gestão anterior de Trump, entre 2017 e 2021, o dólar oscilou significativamente, especialmente após o início da guerra comercial com a China e o impacto da pandemia de Covid-19, que elevou a moeda a níveis recordes, afetando diretamente os países emergentes, incluindo o Brasil. Na época, o dólar chegou a ser vendido a R$ 5,90.

“Se o cenário de aversão ao risco nos mercados globais se mantiver e o fluxo de capitais migrar fortemente para os EUA, a expectativa do dólar chegar a R$ 6,00 torna-se plausível, especialmente diante de uma demanda mais alta por ativos seguros”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Felipe Vasconcellos, sócio da Equss Capital, compartilha da mesma visão. “Se a tendência de alta continuar, há possibilidade de o dólar se estabilizar na casa dos R$ 6,00, o que exigiria medidas adicionais de política monetária para mitigar os impactos na economia brasileira”, diz.

Apesar de várias incertezas no cenário, a política fiscal expansionista de Trump, marcada por cortes de impostos e aumento do déficit público, ameaça reverter o ciclo de afrouxamento monetário que o país vive. É esperado que o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), anuncie o segundo corte na taxa amanhã. Após um corte de 0,5 ponto percentual, a aposta agora é de um corte de 0,25 ponto percentual.

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Embora a economia americana esteja caminhando para um “pouso suave” — caracterizado por crescimento com desaceleração gradual da inflação — as propostas protecionistas e de estímulo fiscal do republicano colocam esse cenário em risco. A inflação nos EUA, apesar de ter desacelerado, ainda permanece acima da meta de 2% do Federal Reserve. Se Trump implementar novas tarifas sobre importações e estimular o consumo interno de forma agressiva, há o risco de pressões inflacionárias se intensificarem, obrigando o Fed a manter ou até elevar as taxas de juros.

Essa elevação dos juros americanos não apenas afetaria a economia dos Estados Unidos, mas também pressionaria o Brasil. “O dólar forte e a postura de estímulo fiscal de Trump devem aumentar o custo de captação de recursos no mercado global, elevando os juros nos EUA e diminuindo a liquidez para economias emergentes como a brasileira,” alerta Luiz Arthur Fioreze, da Oryx Capital.

Para o Brasil, isso representa um cenário de menor margem de manobra para o Banco Central, que já enfrenta dificuldades em manter a inflação sob controle e lidar com as incertezas fiscais geradas pelo perfil expansionista do governo Lula. O governo brasileiro, apesar de ter prometido um pacote de ajuste fiscal para zerar o déficit, ainda desperta desconfiança no mercado, especialmente em relação à sua capacidade de equilibrar gastos e disciplina fiscal. A expectativa é que esse pacote seja anunciado ainda esta semana, mas a dúvida permanece sobre o rigor das medidas propostas. Caso o governo não apresente um plano convincente, a confiança dos investidores pode diminuir, pressionando ainda mais o real e complicando o cenário para a política monetária.

No cenário das exportações, há riscos e oportunidades. “A vitória de Trump pode trazer oportunidades para exportações brasileiras, mas o protecionismo americano e a volatilidade cambial são grandes riscos para nossa economia,” diz José Alfaix, economista da Rio Bravo.

Além disso, quando Trump assumiu a Casa Branca pela primeira vez, o Brasil estava sob a liderança de Jair Bolsonaro, um aliado declarado do republicano. Esse alinhamento facilitou a relação bilateral entre os dois países, especialmente em questões comerciais e diplomáticas. No entanto, o cenário atual é diferente. “Historicamente, o Brasil sempre adotou uma postura diplomática mais neutra, mas desta vez o presidente Lula declarou apoio público à candidatura de Kamala Harris. Com o retorno de Trump ao poder, essa posição pode complicar as relações entre os dois países,” avalia Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus. Segundo ele, a vitória de Trump, especialmente nesse contexto, pode trazer desafios adicionais para o Brasil no cenário internacional.

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Embora os Estados Unidos seja o segundo maior parceiro comercial do Brasil, as diferenças ideológicas entre os dois presidentes pode dificultar as relações comerciais.

A guerra comercial com a China, principal parceiro comercial do Brasil, também gera preocupação. Por um lado, a escalada das tarifas e restrições sobre os produtos chineses pode abrir espaço para exportações brasileiras de commodities, como soja e carne, que já ganharam tração durante o primeiro mandato de Trump. Por outro, uma deterioração ainda maior das relações entre EUA e China pode gerar instabilidade nos preços de commodities e aumentar a volatilidade dos mercados. “A pressão sobre o real pode agravar o déficit em transações correntes e tornar o controle da inflação mais complexo,” afirma Gustavo Wanderley, do Paraná Banco.

Durante o governo Trump (2017-2021), o Brasil viu seus exportadores ganharem terreno na guerra comercial entre EUA e China, mas também enfrentou um ambiente global de crescente incerteza. A valorização do dólar e o aumento da aversão ao risco tornaram os fluxos de capital mais escassos, pressionando as economias emergentes. Agora, com a reeleição do republicano, o risco de um retorno a essas dinâmicas protecionistas e uma escalada nas tensões comerciais coloca novamente o Brasil em uma posição delicada.

Além das questões de comércio, Trump tem prometido reforçar sua postura agressiva contra a imigração ilegal e aumentar as tarifas sobre importações de países considerados “injustos” no comércio, incluindo a China. Embora o Brasil possa não ser diretamente impactado por tarifas, os efeitos indiretos sobre as cadeias de fornecimento globais e a desaceleração econômica na China podem prejudicar o crescimento brasileiro.

O governo brasileiro, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, precisará adotar políticas fiscais robustas para mitigar os impactos da nova era Trump. Medidas de ajuste fiscal e controle da dívida pública serão essenciais para manter a confiança dos investidores e evitar que o país entre em uma espiral inflacionária causada pela desvalorização do real.

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