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Os planos de voo para a Embraer após o fim do acordo com a Boeing

Empresa brasileira deve enfrentar longa disputa judicial com americana e iniciar buscas por nova parceria; ações da Embraer caíram mais de 7% nesta segunda

Por Alessandra Kianek Atualizado em 27 abr 2020, 18h35 - Publicado em 27 abr 2020, 18h10

Após a Boeing cancelar a compra do controle da divisão de aviação comercial da Embraer, a companhia brasileira iniciou um processo de arbitragem – procedimento usado para resolver pendências entre as partes quando um contrato é cancelado – contra a fabricante americana de aviões. A companhia, entretanto, não deu detalhes sobre o processo nem informou onde a arbitragem ocorrerá, se na Justiça dos Estados Unidos ou do Brasil. A crise causada pelo novo coronavírus e a dificuldade de operação de voos foram os motivos que levaram a empresa dos Estados Unidos a desistir da negociação de 4,2 bilhões de dólares pela compra da brasileira.

A negociação envolvia a fusão entre as duas empresas, que teria 80% da nova companhia comandada pela Boeing. Aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, o acordo, que vinha sendo costurado desde 2017, tinha até a sexta-feira, 24, para ser ratificado. A americana, porém, afirmou que os brasileiros não cumpriram todas as exigências para a separação da área. A Embraer reagiu e acusou a Boeing de ter forçado o fim do contrato, devido à grave crise financeira, com a paralisação da produção do avião 737 MAX, e à queda de demanda decorrente da pandemia.

Nesta segunda-feira, 27, executivos da Embraer tentaram assegurar a investidores de que a companhia continua sólida, com informações de que a empresa conseguirá 1 bilhão de dólares em economias de custo neste ano e que não teve nenhuma encomenda de avião cancelada por causa da crise do coronavírus. Contudo, o presidente-executivo da empresa, Francisco Gomes Neto, afirmou que 2020 será um ano difícil e que 2021 será pior do que o esperado. As ações da companhia chegaram a despencar mais de 14% na abertura da bolsa de valores brasileira nesta segunda-feira, o que levou a negociação do papel a ser paralisada por cinco minutos. Ao longo do dia, os papéis apresentaram recuperação e fecharam com queda de 7,5%. Neste ano, a desvalorização das ações da companhia já superaram 60%.

Na outra ponta, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, afirmou nesta segunda-feira, 27, em reunião virtual anual com acionistas, que as negociações com a Embraer não eram mais úteis. “Trabalhamos diligentemente por dois anos para finalizar a transação, mas, no final das contas, não conseguimos chegar a uma solução sobre condições insatisfatórias críticas para o negócio”, afirmou, completando que a companhia está confiante em seu direito legal de rescindir o contrato. Um dos principais interesses da Boeing na Embraer era o acesso a engenheiros de baixo custo.

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Agora, porém, a americana estuda cortar 10% de sua força de trabalho enquanto busca ajuda federal dos EUA. Em entrevista a VEJA, publicada na sexta-feira, 24, Richard Aboulafia, vice-presidente de análise do Teal Group, consultoria de aviação norte-americana, já havia afirmado que a Embraer era uma fonte importante para os engenheiros para viabilizar a montagem de um novo Boeing de tamanho médio. “O único problema mais sério para eles é que não terão uma aeronave para concorrer com a Airbus, que tem o modelo A220.”

Depois de assistir ao fim do acordo – considerado por muitos a sua salvação –, a Embraer agora busca um plano B. A companhia brasileira esperava poder se beneficiar do poder de marketing da Boeing nas vendas de seus jatos regionais. Além disso, receberia dinheiro suficiente para quitar dívidas e rejuvenescer as unidades de defesa e jatos executivos. Mas, o fim do acordo, mudou os planos. Segundo analistas, isso não poderia acontecer em um momento pior: as vendas estão paradas; a demanda geral de jatos desapareceu devido ao coronavírus; a queda nos preços do petróleo enfraqueceu ainda mais os novos aviões. Uma potencial carta na manga da Embraer é a China, que busca maneiras de acelerar suas ambições aeroespaciais.

“Do ponto de vista estratégico, é uma opção, mas pode ser politicamente problemático”, segundo o Lundquist Group, empresa americana que presta consultoria estratégica sobre o setor aeroespacial. Um dos entraves seriam os ataques ao país asiático cometidos por integrantes do governo Bolsonaro. Outra saída para a companhia, de mais curto prazo, envolveria um pedido de socorro ao governo federal, seguindo o exemplo da Boeing, que pediu ajuda ao governo Trump. Uma coisa é certa: o desenrolar dos acontecimentos para a Embraer está longe do fim, seja na busca por um novo parceiro, seja numa longa batalha jurídica com a Boeing.

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