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Os impactos da guerra no Oriente Médio na economia brasileira

Escalada do conflito entre Israel e Irã gera temores em relação ao preço do petróleo e seus efeitos inflacionários. Dólar também tende a se valorizar

Por Luana Zanobia Atualizado em 2 out 2024, 18h04 - Publicado em 2 out 2024, 17h04

O Oriente Médio, historicamente um palco de grandes tensões geopolíticas, voltou a protagonizar um acirramento que promete reverberar em todo o mundo. O recente ataque do Irã a Israel, pouco mais de um ano após os atentados do grupo terrorista Hamas, reacendeu os temores de uma guerra em larga escala. O Hezbollah, outro grupo extremista apoiado financeiramente pelo Irã e aliado do Hamas, também entrou no conflito, elevando as preocupações sobre a estabilidade da região. Dado o papel do Irã como um dos maiores produtores mundiais de petróleo, os impactos econômicos globais não tardaram a se manifestar.

O mercado de petróleo, sensível a qualquer perturbação no Oriente Médio, reagiu de forma imediata. No dia 1º de outubro, a cotação do barril saltou 5%, refletindo a incerteza em relação à oferta global. Embora o preço tenha recuado ligeiramente nesta quarta-feira, flertando próximo de 2%, a volatilidade mostra o nervosismo do mercado. O petróleo, sendo uma commodity global, é altamente suscetível a crises geopolíticas, e a ameaça de uma redução na oferta, especialmente de uma região tão estratégica, tende a inflacionar os preços.

Para o Brasil, oitavo maior produtor mundial de petróleo, com 3,4 milhões de barris por dia, os efeitos podem ser duplos. Como grande exportador, o país se beneficia de uma alta nos preços internacionais, o que pode aumentar as receitas de exportação e de royalties sobre a produção de petróleo. Contudo, o impacto negativo dessa alta é sentido diretamente pelo consumidor”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Segundo cálculos do FGV/Ibre, o preço da gasolina compromete cerca de 7% do orçamento familiar e possuem um efeito direto sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isso porque a a cada 1% de aumento nos preços da gasolina, o IPCA sobe 0,07%. Com a inflação já pressionada por fatores internos, o novo conflito no Oriente Médio coloca em risco o controle inflacionário, que vinha se estabilizando.

“Essa alta pode gerar um efeito cascata na inflação, pois os combustíveis influenciam custos de transporte, produção e, em última instância, bens de consumo, especialmente alimentos”, diz o economista André Braz, coordenador da área de preços ao consumidor do FGV/ Ibre. Esse efeito pode acabar respingando em na taxa básica de juros, a Selic, gerando um novo ciclo de alta. Na última reunião, o Banco Central elevou a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano e deixou a porta aberta para novas altas.

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Pires pontua que, em meio a este conflito, o preço do petróleo tende a subir, mas não se espera uma explosão nos valores a menos que o Irã feche o Estreito de Ormuz, por onde circula um terço do petróleo comercializado globalmente.

No Brasil, mesmo com o fim da política de paridade de preços internacionais (PPI) da Petrobras, seria difícil, segundo Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, conter os reajustes de combustíveis por muito tempo. o preço internacional do petróleo ainda influencia a fórmula usada para definir o valor da gasolina por aqui. Embora não seja mais uma paridade direta, a cotação global continua a impactar o preço dos combustíveis no Brasil. “O governo até poderia tentar segurar os preços caso a oscilação no valor do petróleo fosse temporária ou pequena, mas se houvesse uma guerra prolongada ou o fechamento do Estreito de Hormuz, manter esses preços controlados se tornaria inviável, a não ser que se subsidiasse a Petrobras – o que não parece uma opção viável devido à situação fiscal do país”, avalia.

O Brasil já experimentou os efeitos desastrosos de tentar controlar artificialmente os preços dos combustíveis, como aconteceu em 2015, durante o governo de Dilma Rousseff, com consequências devastadoras tanto para a Petrobras quanto para a economia nacional.

Além dos danos que a escalada do conflito no Oriente Médio pode trazer à inflação, projetada pelo Boletim Focus para 4,37% ao final do ano, já bem próxima ao teto da meta de 4,5%, há também o risco de impacto sobre o câmbio. O real vinha se beneficiando de uma série de fatores favoráveis, como a valorização das commodities e a expectativa de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, que tradicionalmente tende a enfraquecer o dólar. Com o petróleo em alta, o Brasil, sendo um importante exportador da commodity, teria uma janela de oportunidade para ver sua moeda ganhar força.

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No entanto, a intensificação do conflito gera um aumento na aversão ao risco global, um fenômeno comum em tempos de incerteza geopolítica. O aumento do preço do petróleo, embora possa inicialmente beneficiar a balança comercial brasileira, também eleva as preocupações com o impacto inflacionário. A alta da commodity afeta diretamente os preços domésticos de combustíveis e energia, pressionando o índice de preços ao consumidor. Isso, por sua vez, alimenta o receio de que o ciclo de cortes na taxa Selic possa ser interrompido, o que adiciona volatilidade ao mercado.

A aversão ao risco também enfraquece a atratividade das moedas de países emergentes, como o real, e intensifica o fluxo de capitais para ativos considerados mais seguros, como o dólar. Mesmo com a perspectiva de uma redução nas taxas de juros norte-americanas, o dólar tende a ser visto como um porto seguro em tempos de instabilidade global, o que pode mitigar os efeitos positivos que a valorização do petróleo traria ao Brasil. “Em tempos de guerra, a ocorrência imediata dos investidores é buscar ativos de “porto seguro”, como ouro e moedas fortes, principalmente o dólar. Isso tende a desvalorizar as moedas de países emergentes, como o real, o que traria ainda mais pressão inflacionária para o Brasil, avalia Veronese.

Esse movimento já foi observado anteriormente em crises geopolíticas, quando os investidores, diante da incerteza, buscam ativos menos voláteis. A guerra na Ucrânia, por exemplo, gerou uma fuga de capital dos mercados emergentes para o dólar, elevando o valor da moeda norte-americana em relação a outras divisas, mesmo com os fundamentos econômicos globais indicando um cenário mais favorável às commodities.

Caso o conflito se prolongue e os preços do petróleo se mantenham elevados, o Banco Central poderá se ver obrigado a reavaliar sua estratégia de política monetária, o que adicionaria um novo fator de incerteza à economia.

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