Obama rejeita acordo sem alta de impostos para mais ricos
Presidente dos EUA diz que proposta dos republicanos não vai gerar receitas suficientes para evitar abismo fiscal; oposição quer evitar alta da carga tributária
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reafirmou nesta terça-feira que não haverá acordo sobre a redução do déficit público do país sem uma alta de impostos para os mais ricos.
Em entrevista ao canal Bloomberg, Obama deu a entender que existe uma grande margem de negociação, mas sem informar se a taxa de impostos voltará ao nível de 39,6% que vigorou até a administração do presidente Bill Clinton (1993-2001). “Um acordo é possível”, disse. Como condição, ele explicitou a exigência de sobretaxar grandes fortunas. “Será necessário que a taxa de impostos para os 2% (mais ricos) suba, e não cederemos neste ponto”, acrescentou.
A falta de um acordo até 2 de janeiro provocará o chamado “abismo fiscal“, com a entrada em vigor de uma série de cortes e alta de impostos, que, segundo especialistas, pode arrastar o país novamente para a recessão.
Críticas – O presidente dos Estados Unidos rejeitou explicitamente a proposta republicana para solucionar os problemas fiscais do país, classificando-a como “ainda desequilibrada”.
Ele afirmou que a confiança do partido de oposição a seu governo em eliminar deduções fiscais em vez de deixar os impostos subirem entre os norte-americanos com renda superior a 250 mil dólares por ano não arrecadaria dinheiro suficiente para financiar o governo.
O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, de Ohio, lançou uma proposta nesta segunda-feira que defende cortes de gastos, mas não cede terreno para o pedido de Obama por aumentos de impostos aos 2% mais ricos dos EUA.
“Infelizmente, a proposta do presidente da Câmara ainda é desequilibrada. Você sabe, ele fala, por exemplo, sobre 800 bilhões de dólares em receitas, mas ele diz que vai fazê-lo por meio da redução de impostos. E quando você analisa a conta, não funciona”, apontou.
O presidente norte-americano declarou que é importante que os republicanos reconheçam que os impostos têm de subir para os mais ricos a fim de gerar receita suficiente para equilibrar os cortes de gastos automáticos. “Teremos de ver os impostos sobre os 2% mais ricos subirem. Não seremos capazes de chegar a um acordo sem isso”, completou.
Divergência – Em resumo, Obama quer estender a redução dos impostos à maioria das pessoas e aumentar os impostos dos mais ricos. Já os republicanos buscam ampliar o prazo de redução de impostos para todos por mais um ano e, então, discutir cortes de gastos e mudanças tributárias para produzir mais receitas.
O presidente americano destacou também que, infelizmente, não há tempo antes do prazo final para trabalhar numa reforma abrangente dos impostos e programas sociais como querem os republicanos. “Então, vamos estabelecer um processo no tempo correto no fim de 2013, quando trabalharemos na reforma dos impostos. Observaremos as brechas e as deduções que tanto os democratas como os republicanos estão dispostos a concordar”, explicou.
Ele não quis se comprometer com uma taxa máxima específica para os impostos dos americanos mais ricos – que ele define como pessoas com ganhos individuais anuais de 200 mil dólares ou famílias com 250 mil dólares neste ano ou no próximo.
Alguns analistas acreditam que a crise sobre o “abismo fiscal” pode ser evitada com os republicanos concordando em aumentar a taxa máxima de impostos, mas a um nível mais baixo que os impostos da era Clinton. Obama, por outro lado, pode oferecer cortes em alguns gastos com subsídios e permitir fechar algumas brechas para aumentar as receitas.
Cortes – O presidente reconheceu que há mais cortes de gastos possíveis e prometeu trabalhar com Boehner para conter no orçamento o que ele chamou de custos excessivos no sistema de saúde. Reafirmou, no entanto, que um acordo não é possível sem elevar os tributos para os mais ricos. “Provavelmente conseguiríamos espremer por mais cortes, embora já tenhamos feito mais de 1 trilhão de dólares em cortes de gastos”, disse.
Futuro – Embora seja necessária uma alta dos impostos para um acordo com o objetivo de solucionar o abismo fiscal, Obama disse que talvez seja possível diminuir as taxas sobre os norte-americanos de renda mais elevada no ano que vem, como parte de reformas tributárias que evitariam brechas e limitariam deduções. “Vamos deixar que eles subam. (…) E então vamos estabelecer um processo em que, em um momento definido, no final ou no segundo semestre de 2013, quando trabalharmos com reformas tributárias, analisaremos quais brechas e deduções tanto democratas quanto republicanos estão dispostos a resolver. E é possível que sejamos capazes de reduzir os impostos com a ampliação da base tributária”, disse Obama à Bloomberg.
(com Agence France-Presse e Reuters)