O que levou o Magalu a perder R$ 117,9 bi na bolsa em um ano
De 27 para 6 reais, os papeis da empresa atingiram o auge durante a era dos juros baixos, mas caíram com a alta da Selic e com o pior resultado da empresa
Acompanhando as ações das grandes empresas de tecnologia pelo mundo, os papeis da varejista Magazine Luiza dispararam no ano passado, logo após a pandemia. De maio até novembro de 2020, os ativos subiram mais de 90%, passando de 14 para 27 reais, paralelamente ao fenômeno que levou a Nasdaq, a bolsa de valores americana das empresas de tecnologia, a bater recordes. A empresa estava sendo vista como altamente tecnológica em suas ofertas e em sua estratégia, com o mercado esperando que ela fosse se beneficiar da digitalização acelerada por conta da pandemia.
De uns meses para cá, no entanto, os papéis vêm caindo sucessivamente. Desde julho, despencaram de 23,90 reais para 6,10 reais, patamar desta sexta-feira, 10. Se comparado com o auge das ações, em novembro do ano passado, até hoje, a queda é vertiginosa, de 77% em pouco mais de um ano, ou 140 bilhões de reais de desvalorização, em valores correntes. Em um ano, a perda é de 117,9 bilhões de reais.
Diversos fatores explicam essa desvalorização e um deles é a alta da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. A taxa que iniciou 2021 na mínima histórica, de 2% ao ano e vem subindo, alcançou 9,25% na última decisão do Copom, anunciada na quarta-feira, 8. A sinalização do Banco Central de que continuará subindo os juros tem diversos efeitos, que vão de desestimular o consumo no varejo e a tomada do crédito até a tirar a atratividade das compras de ações, beneficiando ainda mais os investimentos em renda fixa e foi mais um balde de água fria para o Magalu. As ações, que estavam sendo negociadas acima de 7 reais antes da decisão do Copom, se aproximaram dos 6 reais ao longo do pregão desta sexta-feira.
“Existe no mercado um movimento de rotação de setores já há algum tempo. O Magazine Luiza está exposto tanto pelo setor de bens duráveis quanto pelo de e-commerce, que ganharam muita força em 2020, mas que vêm sendo impactados pela inflação e pela alta de juros. Tudo isso faz com que as pessoas deixem de consumir como antes”, diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos. Empresas como Via Varejo e Lojas Americanas fazem parte do mesmo segmento que vêm sofrendo com as mudanças do cenário macroeconômico brasileiro.
No terceiro trimestre, os resultados da empresa comandada pela empresária Luiza Trajano e o seu filho Frederico Trajano vieram bastante inferiores à expectativa do mercado. O lucro líquido ajustado no período foi de 143,5 milhões de reais, 30% abaixo do mesmo período de 2020. Para piorar a situação da empresa, ela enfrenta a forte concorrência de companhias como Mercado Livre e Amazon, que vêm aumentando cada vez mais suas presenças no mercado brasileiro.