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O que está por trás do silêncio de Lula e Haddad diante da expansão do PIB

A alta de 1,4% no PIB foi celebrada por ministros, mas o silêncio dos dois princiais líderes indica que, apesar do avanço, há razões para cautela no Planalto

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2025, 14h33 - Publicado em 30 Maio 2025, 13h16

A economia brasileira cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, em linha com as projeções do mercado, e os primeiros a comemorar publicamente foram os ministros. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, exaltou a confiança do setor produtivo e a resiliência do consumo: “Esse é o ciclo virtuoso que queremos! Mais renda, mais investimento, mais desenvolvimento”, escreveu em sua rede social X. Luiz Marinho, Ministro do Trabalho, optou por uma postagem lacônica: compartilhou a imagem com o resultado positivo e escreveu apenas “Nem precisa de legenda”. Mas duas vozes centrais do governo permaneceram em silêncio: a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A ausência de manifestações não passou despercebida. Em uma gestão conhecida por discursos enfáticos, especialmente quando há boas notícias na economia, o mutismo dos principais arquitetos da política econômica chamou atenção. Ainda mais diante de um resultado robusto: o PIB alcançou R$ 3 trilhões entre janeiro e março, puxado pela expansão de 12,2% na agropecuária. O setor de serviços, que responde por cerca de 70% da atividade econômica, cresceu de forma mais tímida, de 0,3%. A indústria, porém, recuou ligeiramente (-0,1%).

A projeção oficial do Ministério da Fazenda é otimista: crescimento de 2,4% em 2025, acima da estimativa do Banco Central, de 1,9%. Contudo, o retrato da economia no trimestre esconde fragilidades estruturais. O crescimento segue ancorado no campo, setor resiliente, mas volátil e politicamente distante do núcleo do governo. A indústria segue emperrada, e o consumo das famílias, embora em expansão, depende de programas de transferência de renda e de crédito subsidiado. Políticas eficazes para amortecer choques sociais, mas que também ampliam a pressão sobre as contas públicas.

Em tese, o Planalto teria motivos para celebrar. Mas também tem razões de sobra para a cautela. A principal delas está no campo político: de um lado, a ala política do governo pressiona por uma ampliação dos gastos sociais, considerados essenciais para sustentar a popularidade e a base de apoio do presidente. Do outro, a equipe econômica, comandada por Haddad, luta para preservar a credibilidade do arcabouço fiscal, uma tarefa que se torna cada vez mais árdua diante das crescentes demandas por expansão do gasto público. Uma das estratégias mais recentes para aumentar a arrecadação sem tocar nos programas sociais, que são politicamente sensíveis, foi a proposta de elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, porém, enfrenta forte resistência no Congresso, onde o apetite por aumentar tributos raramente acompanha o entusiasmo por ampliar despesas.

O silêncio, nesse contexto, talvez seja mais revelador do que qualquer comemoração. Ele expõe o incômodo político de festejar um crescimento liderado por um setor historicamente refratário ao lulismo, ao mesmo tempo em que a engrenagem industrial patina e os dilemas fiscais se acumulam. Como bem sabem os veteranos de Brasília, há momentos em que o ruído político se faz no silêncio. E este parece ser um deles.

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