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A subida de tom do BC de Galípolo que chamou a atenção de analistas

Preocupações com a inflação, política fiscal e a incerteza do cenário externo são mais enfáticas no documento do Copom, segundo analistas

Por Camila Pati Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 fev 2025, 19h04 - Publicado em 4 fev 2025, 15h06

A percepção de analistas e economistas é que o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu o tom na divulgação da ata da reunião da semana passada. A comunicação mais dura foi percebida em relação às preocupações com a inflação, política fiscal e a incerteza do cenário externo. Na quarta-feira passada, o comitê anunciou a decisão de subir mais 1 ponto percentual na taxa de juros. Com a quarta elevação seguida nos juros, a Selic está a 13,25% ao ano. No comunicado, o comitê afirmou que prevê mais um aumento de 1 ponto percentual, levando-a a 14,25%, além de deixar aberta a porta para novos aumentos.

“A ata do Copom apresentou um tom mais duro do que o comunicado. O texto, de forma adequada, destaca a preocupação com a deterioração das expectativas de inflação e indica que o Copom está monitorando a atividade econômica, atento a sinais de uma desaceleração mais acentuada”, diz relatório do Itaú, analisando a ata. O banco projeta que após o aumento de 1 ponto sinalizado para março, haja mais duas elevações, de 0,75 ponto percentual, encerrando o ciclo em 15,75% ao ano.

Essa também é a avaliação de Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos. Ele considera que a ata de janeiro do Copom adotou um tom mais duro do que o comunicado anterior, e deu mais ênfase à desancoragem das expectativas de inflação, à persistência de pressões inflacionárias e ao aumento da incerteza no cenário externo. 

“Assim, fica claro que o cenário de inflação ficou mais incerto para o Copom, o que referenda o modo data dependent e a decisão de deixar em aberto os passos posteriores a março e a magnitude total do ciclo de aperto monetário”, diz Goldenstein. A projeção da Warren é que a taxa Selic pode chegar a 14,75% ao final do ciclo de alta dos juros. 

O relatório da Warren indica a possibilidade de que o Banco Central encerre o ciclo no meio do ano, pois os juros já estariam muito restritivos, permitindo avaliar os efeitos da política monetária.  Um esfriamento maior da economia reduziria preocupações com a inflação, mas a Goldenstein destaca que há risco de juros ainda mais altos caso haja deterioração fiscal ou piora no cenário externo, pressionando o câmbio e a inflação.

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Dante Araújo, economista da Valor Investimentos, diz que a ata é mais importante do que a decisão porque indica melhor qual o horizonte e os pontos observados pelo BC. Na visão dele, o comunicado reforça a independência da atuação do Banco Central, o que tranquiliza o mercado.  Araújo destaca maior preocupação com o cenário externo. “O BC está receoso e aguardando como vai funcionar o cenário externo com a nova política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”. Ele diz também que o mercado vê com bons olhos a indicação de aumento na próxima reunião. “Vemos que Galípolo como novo presidente está seguindo com muita lógica e na linha do que era debatido na gestão de Roberto Campos Neto. Não vemos mudança na política monetária”, diz.

O economista Gesner Oliveira, sócio da Go Associados e professor da FGV, destaca que há quatro pontos relevantes na ata do Copom divulgada hoje. Segundo ele, o Copom reconhece que enxerga sinais de moderação do crescimento, enfatiza que é necessária harmonia entre a política fiscal e monetária, projeta descumprimento da meta de inflação e cita a incerteza do ambiente externo.

Sobre a política fiscal, diz Oliveira, o comitê deixa clara a responsabilidade do governo em relação ao corte de gastos públicos. “O comitê destaca a crença de que, para que haja essa harmonia, é necessário que a responsabilidade pela estabilização recaia não apenas na política monetária como na atualidade, mas também na política fiscal, mostrando a necessidade de uma política fiscal de contenção de gastos por parte do governo”, diz o economista.  

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Oliveira também chama atenção para o que a ata diz sobre uma das principais preocupações de analistas e observadores no mundo inteiro: as incertezas provocadas pela política comercial de Donald Trump. “Certamente colocam um fator de incerteza e de instabilidade adicional na conjuntura externa já devidamente carregada de vários problemas, tanto geopolíticos quanto problemas do desempenho das economias”, afirma Oliveira. 

A equipe econômica do C6 Bank destaca em relatório que o comitê não deu novas indicações para além do guidance exposto no comunicado e enfatizou que o Copom mostrou que está ciente de que a atividade econômica precisa desacelerar. Em relação ao fiscal, a ata sugere que a percepção fiscal continuou impactando de forma relevante o câmbio e as expectativas da inflação, indicando uma preocupação com a política fiscal. 

Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me Banco Educação também disse que a ata não trouxe muita novidade, mas deixou clara a preocupação com os números da inflação, câmbio e atividade econômica, “que acabam fazendo com que seja necessária uma política mais contracionista”. 

Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, diz que com a ata o Banco Central se posiciona de maneira proativa para ajustes futuros, caso o cenário exija. “Sinaliza que o aperto monetário pode não terminar tão cedo dependendo das próximas leituras inflacionárias e da eficácia das políticas fiscais vigentes”, diz Lima.  Ele chama a atenção para o fato de ata reiterar a importância da vigilância contínua sobre a evolução dos preços, em especial dos alimentos, um dos componentes mais voláteis e impactantes no índice de preços ao consumidor.

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