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“O primeiro impacto dos extremos climáticos é sobre a saúde”, diz presidente do Einstein

Segundo Sidney Klajner, 67% das unidades de saúde da América Latina estão em áreas de risco de eventos climáticos

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 nov 2025, 17h50 - Publicado em 13 nov 2025, 15h50

O governo brasileiro apresentou nesta quinta-feira, 13, na COP30, a Conferência do Clima da ONU em Belém (PA), o primeiro plano internacional de ação climática voltado especificamente para a saúde, o Plano de Ação em Saúde de Belém. A iniciativa surge em um momento em que os eventos climáticos extremos já demonstram seus efeitos devastadores sobre os sistemas de saúde em todo o mundo, com apenas 2% dos investimentos nas negociações da COP destinados ao setor.

Para Sidney Klajner, presidente do Einstein Hospital Israelita, grupo de saúde com 85 unidades no Brasil, a relação entre clima e saúde é direta e urgente. “A primeira condição que é impactada é a saúde da população, tanto pelo efeito direto de eventos climáticos extremos, como os ocorridos no Rio Grande do Sul, onde dezoito hospitais foram destruídos pela água”, diz Klajner, que esteve na Blue Zone, espaço de negociações e debates oficiais da COP, para apresentar os projetos do Einstein na área. “Nós vemos que, até hoje, a porcentagem de investimento na saúde nas negociações da COP representa apenas 2% do total. É muito pouco para a área que mais sofre os impactos das mudanças climáticas.”

Os dados apresentados por Klajner revelam a dimensão do problema: mais de 3.000 unidades de saúde deixaram de funcionar por um período longo após as enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado, além do aumento de doenças transmitidas pela água, como leptospirose e hepatite. Em São Paulo, a elevação de temperatura aliada a precipitações gerou dois milhões de casos de dengue no último ano. “Existe uma estimativa de que o mundo vai perder 250.000 vidas a mais por ano por conta de eventos climáticos, e as populações vulneráveis são as que mais sofrem”, destacou o presidente do Einstein.

A situação é particularmente crítica na América Latina, onde 67% das unidades de saúde estão em áreas de risco de eventos climáticos. Para enfrentar esse desafio, Klajner defende uma estratégia baseada em três pilares: o cuidado da população com uso de tecnologia para mapear riscos e prevenir impactos, a construção de infraestrutura resiliente em hospitais e unidades de saúde, e a capacitação profissional de equipes médicas que não foram formadas para lidar com eventos climáticos.

“As unidades precisam ser construídas de forma que resistam aos extremos de temperatura, de frio ou de enchentes. Um bom exemplo é o gerador do hospital não estar no subsolo. Os materiais de construção precisam ser mais resistentes. E é preciso ter uma rota de fuga e um plano B, caso aquela unidade esteja impedida de funcionar”, disse Klajner à VEJA.

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Alertas climáticos

Durante entrevista coletiva após o lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém, que recebeu a adesão de 80 países e instituições, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou a importância da integração entre dados climáticos e sistemas de saúde. “Saiu um relatório recente na revista Lancet Countdown, com muitos dados, entre os quais o de que, no Brasil, conforme se passou a implementar um sistema de alertas precoces de eventos extremos, conseguiu-se reduzir em 92% a mortalidade por enchentes e tempestades”, disse Padilha. “A integração dos dados do clima com o sistema de saúde ajuda a salvar vidas.”

 

Mais cedo, Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), destacou que “a humanidade só pode vencer esta luta climática global se conectarmos ações climáticas mais fortes às principais prioridades das pessoas em suas vidas diárias. E há poucas prioridades mais altas do que nossa saúde”.

A dimensão econômica e social do problema foi apresentada por Valerie Hickey, diretora global para Mudanças Climáticas do Banco Mundial: “Até 2030, 44 milhões de pessoas vão cair de volta para baixo da linha de pobreza por causa das mudanças climáticas.”

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Projetos

Na COP30, Klajner apresentou os projetos desenvolvidos pelo Einstein relacionando clima e saúde. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul, equipes do Einstein foram para Canoas, onde transformaram uma unidade básica que não havia sido afetada pelas águas em pronto atendimento e ajudaram a recuperar mais três unidades de saúde e um hospital. A instituição também desenvolveu projetos em parceria com o Ministério da Saúde que empregam tecnologia para mapear a qualidade do solo e da água em comunidades indígenas na Amazônia.

 

O Einstein tem investido em iniciativas de mitigação, incluindo energia renovável através de uma planta eólica em Pernambuco, influência sobre a cadeia de fornecedores para práticas sustentáveis, logística reversa de embalagens e diminuição de descarte de resíduos. Para Klajner, “a mitigação é um dever de todos, inclusive das organizações de saúde, mas a adaptação se faz necessária, senão nós vamos continuar vendo só aumentar o número de vidas perdidas, o impacto no sistema de saúde pelo aumento de doenças”.

O hospital também lançou uma plataforma que permitirá predizer quando o sistema de saúde precisa estar preparado para aumento de demanda. O sistema já identificou, por exemplo, que em Belém, quedas de temperatura aumentam internações por doenças cardiovasculares, enquanto elevações de dois graus acima do normal impactam populações vulneráveis.

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Bill Gates

Klajner também comentou o recente alerta feito pelo bilionário americano Bill Gates sobre a necessidade de privilegiar a melhoria das condições de vida das populações mais vulneráveis, em vez de gastar tantos recursos com a mitigação climática. O posicionamento de Gates foi recebido com críticas por ambientalistas.

 

Klajner diz que a abordagem de Gates está apenas parcialmente correta. “Adaptar o sistema de saúde é uma obrigação de quem trabalha na área, para que ele seja mais resiliente, para que a gente proteja a população. Mas não se pode simplesmente desencanar da mitigação, porque é muito diferente. Ainda que o mundo tenha perdido a batalha para a elevação de 2 graus, se for 4 graus, vai ser muito mais ferrenha, os extremos vão ser mais frequentes e vai ser impossível, inclusive, se adaptar”, diz Klajner.

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