O copo meio cheio de Guedes em relação à invasão russa na Ucrânia
Ministério cita que conflito no leste europeu pode consolidar o Brasil como destino de investimentos privados e Guedes comemora desempenho do real

Em tempos de guerra, virou regra dentro do Ministério da Economia a blitzkrieg pela divulgação de uma agenda positiva. O ministro Paulo Guedes vem tentando virar a chave da opinião pública em torno dos resultados colhidos por sua gestão, passado o pior momento da pandemia de Covid-19 e tenta ver o copo meio cheio sobre os efeitos que o conflito entre Rússia e Ucrânia podem trazer para a economia brasileira. Nesta semana, Guedes disparou por WhatsApp para empresários os resultados do real desde o início do ano, e da Guerra da Ucrânia. A moeda brasileira foi a que mais se valorizou desde o início do ano — o que inclui a incursão do autocrata russo, Vladimir Putin, no país. Outro envio por parte do ministro aponta os bons resultados da bolsa brasileira no período. A mensagem encaminhada por Guedes mostra que o real valorizou-se 9,2% — melhor resultado entre 62 moedas desde janeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, avançou cerca de 30% desde o início do ano.
O chefe de assuntos estratégicos do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, é um dos assessores mais alinhados ao chefe e aproveitou a nota da Secretaria de Política Econômica, a SPE, para reforçar as mensagens de Guedes. En passant, o documento, que repercute os resultados do PIB, aborda os efeitos econômicos para o Brasil e — apesar da situação adversa — pode trazer bons frutos ao país. “Cabe ao Brasil, além dos posicionamentos diplomáticos e humanitários (em três oportunidades já se posicionou na ONU condenando a invasão da Rússia à Ucrânia; ressalta-se ainda que o Brasil emitirá vistos especiais aos refugiados), mostrar que é um porto seguro para os investimentos privados”, afirma a nota. Com diversas sanções econômicas aos russos, há investidores que vêm tirando dinheiro de lá e vindo para outros emergentes, como o Brasil. Como mostra o Radar Econômico, em apenas três dias, os investidores estrangeiros despejaram 8,6 bilhões de reais na bolsa brasileira.
A SPE aproveita para deixar claro o objetivo final do chefe, Paulo Guedes, que é aprovar algo de sua agenda reformista para deixar de legado. Em ano de eleição, a agenda eleitoral vem ganhando espaço no ministério em detrimento das reformas. Segundo eles, para que o Brasil aproveite a oportunidade, “é necessário manter a agenda de reformas, fortalecendo o mercado de capitais e de crédito, por isso é fundamental aprovar o projeto de lei (PL) do Novo Marco de Garantias, a medida provisória (MP) de registros públicos, e o PL de debêntures incentivadas”, diz o documento, citanto também as privatizações dos Correios e da Eletrobras.
Cutucadas
A nota da SPE teve novamente o já conhecido tom ufanista, mesmo com Sachsida tendo deixado o posto de chefe da secretaria para assumir o papel de assessor especial de Guedes. Em clima de despedida, talvez esta seja a última nota comemorativa assinada por ele, abordando os resultados do Produto Interno Bruto, o PIB de 2021. A economia brasileira avançou 4,6% em relação ao ano anterior, superando as perdas causadas pela pandemia em 2020. “Quase três quartos das projeções de mercado coletadas pelo Focus no mês de março para o PIB do ano corrente se afastam do resultado realizado”, avalizou, entoando o mote de Guedes de que as análises do mercado financeiro estão equivocadas.
Para o ano de 2022, as previsões de crescimento podem ser corroboradas, segundo Sachsida, por dois aspectos positivos que estão em curso na economia brasileira: a ampliação significativa do investimento e a recuperação contínua do mercado de trabalho. “O Brasil tem melhorado sua posição relativa de taxa de poupança e investimento nos últimos anos. Segundo as projeções do FMI, o Brasil foi o segundo país que mais elevou sua taxa de poupança no período entre 2018 e 2021 no grupo dos 20 países com maior PIB em dólares”, escreveu. “A ampliação da taxa de poupança é determinante para o aumento do investimento e crescimento de médio prazo. De forma paralela, tem ocorrido uma ampliação da taxa de investimento na economia brasileira nos últimos anos, em ritmo maior que o próprio crescimento do PIB.”