Banco Central recua no real digital e entrega terreno às stablecoins privadas
O desligamento da plataforma de testes do Drex marca um recuo do BC e abre caminho para a iniciativa privada
O Banco Central do Brasil (BC) tomou uma decisão que sinaliza o enfraquecimento de uma de suas iniciativas mais ambiciosas desde o Pix: o projeto Drex, a versão digital do real. Na próxima segunda-feira, a autoridade monetária desligará a plataforma utilizada nas duas primeiras fases do piloto, encerrando a experiência com blockchain que vinha sendo testada desde 2020. A decisão foi anunciada em reunião com os consórcios participantes do piloto na terça-feira, 4, e a plataforma será desligada na segunda-feira, 10.
O Drex nasceu com a promessa de democratizar o acesso a serviços financeiros por meio de ativos tokenizados e contratos inteligentes, operando em uma rede baseada na Hyperledger Besu, vinculada ao Ethereum. Entretanto, problemas de privacidade, segurança e escalabilidade atrasaram o projeto, que inicialmente previa operações comerciais ainda em 2024.
O projeto entra agora em uma nova fase, com a expectativa de definir, no primeiro semestre de 2026, uma nova infraestrutura para testar o Drex. A operação, porém, ao que tudo indica, terá aplicação mais restrita, servindo principalmente como garantia em operações financeiras, e não para transações comuns do dia a dia dos cidadãos. Nesse aspecto, o Pix continua sendo mais vantajoso e menos arriscado.
Segundo Fred Amaral, fundador da Lerian, a decisão não representa um abandono da ideia da moeda. O especialista explica que o Drex funciona como um ativo tokenizado, e não como uma moeda digital propriamente dita. Esse ativo tokenizado é especialmente útil como garantia em operações financeiras, em situações que envolvam contratos inteligentes, que funcionam como contratos tradicionais, mas sem a necessidade de intermediários, como bancos ou advogados, porque o próprio código garante que as condições sejam cumpridas.
O recuo também reduz as ambições internacionais do projeto, incluindo uma integração potencial com sistemas de outros países. O presidente Lula tem explanado em seus discursos a vontade de reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais, mas esse sonho agora fica mais distante.
Diferente de Roberto Campos Neto, que impulsionou o Pix como marco de inovação financeira, o atual presidente do BC, Gabriel Galipolo, não tem desenvolvido com tanto foco a agenda digital ou, pelo menos, da mesma forma acelerada como na gestão anterior. O movimento, porém, remete à tendência internacional. Países como os Estados Unidos têm dado espaço para stablecoins privadas, limitando o papel de moedas digitais de banco central (CBDCs) no varejo. O avanço das soluções privadas abre caminho para estruturas tokenizadas fora do controle estatal.
O desligamento da plataforma não significa o fim do Drex, mas representa um reposicionamento pragmático: o BC prioriza segurança e privacidade, em vez de ambições de inovação disruptiva. Para o mercado, resta agora observar se as stablecoins privadas e outras soluções tokenizadas preencherão o vácuo.
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