O alerta vindo dos indicadores do emprego em janeiro
Desemprego ficou estável em 8,4%, enquanto número de ocupados caiu 1 milhão; governo Lula deve pressionar ainda mais por queda nos juros
A taxa de desemprego no Brasil apresentou estabilidade no trimestre encerrado em janeiro, marcando 8,4%, com 9 milhões de brasileiros buscando um emprego, ligeiramente acima dos 8,3% do trimestre imediatamente anterior, encerrado em outubro. Os dados são da Pnad Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 17. Apesar da estabilidade nos dados do desemprego, há uma redução no número de pessoas ocupadas, o que acende um alerta.
O nível de ocupação foi estimado em 56,7%, igualando o percentual alcançado no mesmo trimestre de 2016. Já o contingente de pessoas ocupadas foi de 98,6 milhões, o que representa uma queda de 1 milhão de pessoas em relação ao trimestre terminado em outubro.
Os números do emprego devem aumentar a pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o Banco Central para corte na taxa básica de juros, a Selic. O BC vem indicando manutenção da taxa, no patamar de 13,75% para conter a inflação que segue acima da meta por aqui. Juros altos tornam a tomada de crédito, tanto por famílias quanto por empresas, mais caras. Entre os efeitos colaterais, há uma diminuição de dinamismo da economia, que se reflete no crescimento do PIB e também nos dados do emprego.
“Pelo lado da ocupação, o registro é de queda no trimestre, após uma sequência de expansão do número de trabalhadores nos trimestres móveis de 2022. No confronto anual, o contingente de ocupados segue crescendo, com alta de 3,4%. Então, se pelo lado da desocupação, há uma estabilidade, pelo lado da geração de trabalho, o movimento já é de perda de ocupação. Observamos, assim, dois panoramas: em uma análise de mais curto prazo é observada uma queda na formação de trabalho enquanto no confronto com um ano atrás o cenário ainda é de ganho de ocupação”, afirma Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad Contínua.
De acordo com o IBGE, esses resultados explicam o cenário observado ao final do trimestre móvel de novembro a janeiro. “Esse efeito conjugado entre a estabilidade da população desocupada e retração do número de trabalhadores, deixou a taxa de desocupação estável”, explica Beringuy. Pela metodologia do IBGE, é considerado desempregado o brasileiro que está sem trabalho mas procurando uma recolocação ou entrada no mercado. Já a população ocupada mede quem efetivamente está trabalhando. Por isso que a taxa de ocupação e desocupação podem mostrar curvas diferentes como agora.
Salário
Apesar da queda da ocupação, o rendimento real habitual cresceu 1,6% no trimestre terminado em janeiro, para R$ 2.835, e 7,7% na comparação anual. “Há alguns trimestres observamos um crescimento importante no rendimento dos trabalhadores, com o trimestre encerrado em janeiro sendo a terceira observação”, destaca Beringuy.
A coordenadora da Pnad Contínua elenca ainda alguns dos setores que influenciaram no crescimento no trimestre e na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Em termos de atividades no confronto com o trimestre anterior, destacamos a atividade de alojamento e alimentação, que teve um aumento de 7%, e administração pública, saúde e educação, com aumento de 3,1%. Destaque também para os serviços domésticos, que expandiram o rendimento real em 2,2%. Já no confronto anual, todas as atividades tiveram um ganho estatisticamente significativo dos seus rendimentos”, observa.