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“Ninguém está pedindo dinheiro de graça”, diz porta-voz das aéreas

Em entrevista à Veja, a presidente da Abear, Jurema Monteiro, fala sobre as propostas de apoio ao setor que estão sendo discutidas com o governo

Por Juliana Elias Atualizado em 2 fev 2024, 10h12 - Publicado em 2 fev 2024, 10h05

O pacote de ajuda que está sendo discutido entre o governo federal e as companhias aéreas deve aliviar a crise e o alto endividamento que o setor passa desde os choques que sofreu durante a pandemia, em 2020. É o que defende a presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro, que têm liderado as discussões junto ao ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e outros representantes do governo.

“As empresas precisam recuperar caixa para que possam fazer financiamentos e a manutenção de suas aeronaves, por exemplo”, disse Monteiro, em entrevista a VEJA.

Entre as propostas que estão em discussão, está a criação de um fundo de crédito ao setor, capitaneado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e que, de acordo com o ministro, pode chegar a 6 bilhões de reais. Políticas para suavizar as altas do querosene de aviação, fabricado e vendido pela Petrobras no país, também são outro pleito do setor e que estão na mesa de discussões.

As reuniões em Brasília acontecem desde o ano passado, mas se intensificaram nas últimas semanas, depois que a Gol entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.  “Ninguém está pedindo dinheiro de graça, não é nada a fundo perdido. Tudo o que as empresas receberem vai ser pago de volta aos cofres públicos”, afirmou a presidente da Abear. Veja a entrevista completa a seguir.

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A Gol não é a primeira do setor a passar por um processo de reestruturação de dívida. Latam e Azul são outras que também fizeram renegociações recentes. O que aconteceu com o setor para estar passando por tantas dificuldades? A aviação foi, sem dúvida, o setor mais duramente atingido pela pandemia em 2020. As atividades foram completamente interrompidas, os aviões ficaram parados nos pátios dos aeroportos. De acordo com a IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo, em inglês), 64 companhias no mundo não voltaram a operar depois, porque faliram. E as companhias brasileiras conseguiram superar esse desafio com esforço e competência, porque não houve nenhum investimento do governo para socorre-las.

Algum aporte do governo na pandemia teria ajudado? O Brasil foi diferente do mundo todo. Os Estados Unidos, por exemplo, colocaram capital direto nas companhias. Em Portugal, o governo adquiriu parte da TAP e virou acionista. Nós não tivemos isso. O resultado é que o prejuízo acumulado das companhias chegou a 45 bilhões de reais de 2016 até 2023. Foram resultados negativos que foram se acumulando.

O setor está tendo diversas reuniões com o governo, em meio à escalada no preço das passagens e às dificuldades da Gol. O que está sendo discutido? São dois braços que estão em discussão. O primeiro e mais urgente é o acesso a crédito. A primeira coisa que as empresas precisam é recuperar caixa para que possam fazer financiamentos e a manutenção de suas aeronaves, por exemplo. Em paralelo a isso, há também uma agenda de competividade, que envolve os custos e passa pelo tema dos combustíveis. Não há muito o que detalhar mais porque elas ainda estão em discussão.

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Quais têm sido as pressões de custos, e por que precisam de apoio nessa frente? Cerca de 60% do custo de uma companhia aérea no Brasil é dolarizado. Eles incluem os combustíveis, o leasing de aeronaves [arrendamentos] e a manutenção, já que as peças e motores também são em dólar. No caso dos combustíveis, o Brasil produz 90% do que consome. A Petrobras tem muita eficiência nisso, então por que o nosso querosene de aviação (QAV) tem que ser mais caro do que o dos Estados Unidos? O QAV e o diesel têm processos de produção muito semelhantes nas refinarias. Mas, enquanto o nosso diesel é cerca de 5% mais caro do que o dos Estados Unidos, o QAV é 17% mais cara. Por que essa distorção?

Mexer no preço do combustível pode envolver mexer na política de preços da Petrobras, o que é, entretanto, um conflito antigo e bastante polêmico. Como o problema do preço poderia ser equacionado? Nosso desafio é encontrar mecanismos em que a Petrobras mantenha e preserve seus ativos e seus interesses, ao mesmo tempo em que possamos dialogar e entender por que o nosso combustível de aviação é tão mais caro que os outros.

O preço das passagens subiu muito nos últimos anos e, em 2022 e 2023, estiveram em um dos maiores níveis da história. Por que subiram tanto, e o que precisa para que baixem? O preço da passagem aérea foi pressionado no mundo todo pelo aumento dos custos. O petróleo subiu no mundo inteiro. Nos Estados Unidos e na Europa, os preços das passagens também subiram na ordem de 20% a 30%. Só que, de 2019 para 2022, o aumento no preço da querosene de aviação aqui no Brasil foi de 97%, enquanto as passagens subiram 14%. Só essa comparação já dá uma ideia do impacto de custos que as companhias aéreas tiveram.

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Além de formas de suavizar os preços do combustível, que podem passar por redução de imposto, o governo tem falado também na possibilidade de criar um fundo de financiamento para as companhias aéreas. Isto em um momento em que ele está sem recursos e é cobrado por cortar gastos. Por que, então, o governo deveria fazer aportes no setor? Ninguém está pedindo dinheiro de graça, não é nada a fundo perdido. Tudo o que as empresas receberem vai ser pago de volta aos cofres públicos. Entendemos que é um setor estruturado, que tem capacidade de fazer investimentos que rapidamente retornam em impactos para a economia também.

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