‘Não acreditem nessa bobagem da macroeconomia’, diz Lula sobre previsões de mercado
Presidente exalta crescimento econômico em evento da indústria naval no RS, mas ignora a inflação como uma "pedra no sapato" para seus planos

Em uma fala enérgica durante a assinatura de contratos do Programa de Ampliação da Frota da Petrobras e Transpetro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a contestar as previsões macroeconômicas que apontam um cenário de crescimento tímido para o Brasil, de 2% para este ano e 1,7% para o próximo. “Não acreditem nessa bobagem da macroeconomia”, declarou. Como argumento, Lula se referiu às estimativas que previam um crescimento de 1,5% em 2024, enquanto o país superou essa marca, alcançando 3,5%. “E podem se preparar, porque vai crescer ainda mais agora”, assegurou o presidente.
Lula fez referência ao seu histórico no governo, lembrando que, ao deixar a presidência em 2010, o Brasil experimentava um crescimento econômico robusto de 7,5%. Desde então, o crescimento do PIB não voltou a superar a marca de 3% até agora. De fato, o país tem crescido e registra a menor taxa de desemprego na história, ou seja, o país vive o seu período de maior pessoas empregadas. O evento realizado no Rio Grande do Sul simboliza o compromisso do governo em revitalizar a indústria naval brasileira e contribuir ainda mais com a criação de novos empregos. O contrato, estimado em 1,6 bilhão de reais, prevê a construção de quatro navios pela Ecovix, em parceria com a Mac Laren, a serem entregues até 2027. O projeto deverá criar 1.500 empregos diretos, impulsionando o desenvolvimento da região e reativando o Estaleiro Rio Grande, um dos maiores polos industriais do país.
Lula, no entanto, tem ignorado fatores que podem minar seu otimismo. A inflação, que continua acima da meta do Banco Central, pressiona a política monetária. Nesta segunda-feira 23, o Boletim Focus revisou a projeção de inflação de 5,60% para 5,65%. Com a Selic fixada em 13,25%, o mercado já prevê uma taxa terminal de 15% para conter essa escalada. O encarecimento do crédito tende a esfriar o consumo e reduzir os investimentos privados, desacelerando o crescimento econômico — o que, afinal, é justamente o objetivo do BC para conter a inflação.
Lula continuou seu discurso dando ênfase ao projeto de isentar o IR de quem ganha até 5.000. O efeito das políticas de estímulo ao consumo popular é um dos pontos de tensão com os economistas, isso porque essas medidas também geram maior pressão inflacionária. “Quando o povo recebe 1.000 reais, ele não vai comprar dólar ou guardar no banco; ele vai gastar com comida, roupa e outras necessidades. E esse dinheiro vai rodar, gerando produção, emprego, comércio e salários”, afirmou. Além disso, há uma preocupação com o equilíbrio fiscal. Embora Lula defenda que essa medida vai injetar mais dinheiro na economia, os especialistas alertam para o risco de desequilíbrio fiscal, dado que o governo calcula uma perda de 35 bilhões de reais em arrecadação, a ser compensada com a maior taxação de contribuintes de renda alta. “Eu quero ver pouco dinheiro na mão de muitos, e não muito dinheiro na mão de poucos”, disse.
Enquanto o governo promete impulsionar a demanda doméstica, os analistas econômicos veem com preocupação a falta de detalhamento sobre como será gerido o impacto fiscal de medidas como a isenção do IR. Além disso, a relação entre política fiscal expansionista e a necessidade de manter o controle inflacionário ainda não foi suficientemente explicada, gerando uma espécie de “desconexão” entre o otimismo presidencial e o pragmatismo exigido por uma economia global cada vez mais instável.