Mercado revisa PIB de 2021 e 2022 para baixo por incerteza fiscal
Segundo Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, analistas estão cada vez mais pessimistas com o desempenho da economia brasileira
Com o caminhar da PEC dos Precatórios, que autoriza uma manobra para abrir espaço no Orçamento do governo em pleno ano eleitoral, as perspectivas econômicas do país, semana a semana, são menos otimistas. Analistas ouvidos pelo Banco Central apontam que o crescimento do país neste ano deve ser de 4,93% e de apenas 1% no próximo ano. O dado é ligeiramente menor que os 4,94% projetados para 2021 na semana passada e 0,2 ponto menor que os 1,20% estimados pelo mercado na ocasião. No caso da estimativa do PIB para o próximo ano, essa é a quinta semana seguida de revisão para a desaceleração.
Os dados do Boletim Focus, divulgados nesta segunda-feira, 8, também trazem um cenário de piora da inflação e da taxa básica de juros, a Selic. De acordo com os economistas consultados pelo BC, o IPCA, que é o índice oficial de preços do país deve fechar este ano em 9,33%. Esta é a 31ª semana de revisão acima, e indicam uma inflação muito acima da meta, de 3,75% e também do teto da meta, de 5,25%. Para o próximo ano, a projeção do mercado financeiro também aponta um IPCA acelerado. Segundo os analistas, a inflação deve encerrar o ano em 4,63%, acima dos 4,40% da semana passada e a 16ª semana de alta seguida. Para o próximo ano, a meta de inflação é de 3,5% com o limite da meta em 5%.
A inflação, já impactada pela crise hídrica e pelo aumento dos alimentos e combustíveis, tem viés de alta ainda mais acentuado com a incerteza fiscal. A PEC dos Precatórios, que deve ser analisada em segundo turno na Câmara, além de mudar a correção do teto de gastos para abrir mais espaço, propõe rolar dívidas judiciais do governo, os precatórios, para exercícios seguintes. O texto estabelece um limite de 40 bilhões de reais para essas despesas em 2022, sendo que o valor a pagar é de 89,1 bilhões de reais. Com essas manobras, há uma insegurança maior sobre como o governo cumpre seus compromissos e, com isso, a moeda local se desvaloriza. Um real mais fraco deixa os produtos mais caros.
Com a inflação elevada, os analistas projetam alta na taxa de juros. Para 2021, a previsão é a mesma de semana passada, com a Selic encerrando o ano em 9,25%. Hoje, a taxa está em 7,75%, mas o BC já indicou outro aumento de 1,5 ponto percentual, chegando aos 9,25% projetados pelo mercado. Para 2022, no entanto, os analistas consultados pelo BC projetam a Selic em 11%, acima dos 10,25% estimados na semana anterior.