Mercado ignora trégua comercial e mira o buraco nas contas públicas
Ibovespa recua com foco em fiscal, apesar de alívio externo com decisão da Corte americana sobre as tarifas de Trump

O Ibovespa opera em queda nesta quinta-feira, 29, refletindo o desconforto dos investidores com a situação fiscal do país e os sinais de resiliência da economia doméstica, que reforçam pressões sobre a política monetária. Às 11h, o principal índice da B3 recuava 0,47%, aos 138.233 pontos, enquanto o dólar comercial cedia 0,5%, negociado a R$ 5,66.
No pano de fundo, o mercado digere dados mais fortes do que o esperado do mercado de trabalho brasileiro, que indicam uma economia aquecida mesmo com a taxa Selic em 14,75% ao ano.
Esse cenário impacta diretamente a curva de juros futuros, com os contratos mais longos apontando para altas relevantes, em meio à avaliação de que o Banco Central encontrará dificuldades em flexibilizar a política monetária diante de uma economia ainda aquecida.
No front político-fiscal, as atenções se voltam às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que voltou a alertar para a necessidade de encontrar receitas adicionais para garantir o cumprimento da meta fiscal. O ministro afirmou que, sem o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo terá “poucas alternativas” para fechar as contas públicas em 2025. A fala intensifica a percepção de fragilidade do arcabouço fiscal e elevou o prêmio de risco embutido nos ativos locais. Segundo a pasta, o aumento do IOF tem potencial para arrecadar R$ 31,3 bilhões, ajudando a compensar a frustração de receitas previstas no orçamento.
Apesar das tensões internas, o ambiente externo traz algum alívio. A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de suspender a maior parte das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump foi bem recebida pelos mercados internacionais. Ainda assim, analistas permanecem cautelosos. Segundo o Goldman Sachs, a Casa Branca deve tentar contornar a decisão judicial, possivelmente buscando meios legais para reimpor parte das tarifas.
A suspensão das tarifas ocorre em um momento sensível para a política monetária americana. Em ata divulgada na véspera, o Federal Reserve reiterou sua preocupação com a inflação e indicou que monitorará de perto os desdobramentos da política comercial antes de qualquer nova decisão sobre juros.