Mercado está mais tenso que no passado e tem ‘dedo no gatilho’, diz Haddad
Ministro afirma que não se envolve em reforma ministerial e nenhum partido reivindica a Fazenda

Questionado sobre o sobe e desce do dólar, que variou entre praticamente 6,30 reais e 5,70 reais entre dezembro e fevereiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que “o mercado hoje está muito mais tenso do que em outros tempos” e que “as pessoas estão mais com o dedo no gatilho”. O chefe da Fazenda considera que a economia brasileira passou por múltiplos momentos delicados nas últimas décadas, mas o mercado se encontra particularmente sensível neste momento por conta, em parte, das tensões geopolíticas vividas em todo o mundo.
“Rara a semana em que eu não converso com um representante de outro país”, disse Haddad ao apontar que a preocupação é compartilhada por diversos pares internacionais, como México, Chile e países do Oriente Médio. Durante a fala do ministro, ocorrida no evento CEO Conference Brazil 2025, do banco BTG Pactual, nesta terça-feira 25, Haddad destacou a incerteza vinda dos Estados Unidos. “É muito ruim não saber o que o Fed (o banco central americano) vai fazer. Quantas vezes o Fed mudou de ideia desde 2023?”
Quanto ao cenário doméstico, o ministro reforçou seu compromisso com as 25 iniciativas prioritárias que apresentou ao Congresso Nacional: “Não abro mão de nenhuma delas”. Entre os pontos, o esforço para facilitar o acesso ao crédito no país é o mais quente na agenda, com o recente anúncio do crédito consignado privado. “Na minha opinião, vai ser uma revolução”, disse Haddad sobre a medida. “O Brasil é uma terra também de empreendedores. Nós temos muitos trabalhadores, mas temos muita gente que quer empreender e fica limitada pela taxa de juros.”
O governo busca fazer a roda da economia girar apesar da escalada da taxa básica de juros, a Selic, hoje fixada em 13,25% ao ano. Haddad considera que as suas 25 iniciativas para a segunda metade do governo não serão prejudicadas pela aproximação do calendário eleitoral de 2026, uma vez que essa agenda é “meio neutra do ponto de vista ideológico” e de caráter “institucional” — de modo que políticos de oposição não ganhariam capital político ao votar contra o ministro.
A presença de Haddad no principal evento do BTG ocorre em meio à discussão de uma reforma ministerial em Brasília. Por ora, já há a expectativa de troca da ministra Nísia Trindade por Alexandre Padilha (PT) no Ministério da Saúde. Haddad negou que esteja envolvido em qualquer conversa acerca da reforma ministerial. “Nunca conversei com o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) ou colega de ministério sobre reforma ministerial”, disse. “Nunca sugeri um nome para o presidente, nem para exonerar nem para admitir. Não acho que é papel de um ministro fazer isso”. O comandante da Fazenda lembrou que está garantido em seu posto, dado o tamanho do desafio que tem nas mãos: “Nunca vi um partido reivindicar a Fazenda (em uma reforma ministerial).”