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Mercado aposta em alta de 0,5 ponto na Selic enquanto governo trabalha em corte de gastos

É consenso a elevação na taxa de juros em um nível maior do que na reunião passada. Governo se apressa para apresentar medida antes da decisão do Copom

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 nov 2024, 11h30 - Publicado em 5 nov 2024, 07h59

O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça-feira, 5, a reunião que vai definir a taxa básica de juros, a Selic. Amanhã, quarta-feira, deve anunciar uma nova elevação na Selic. Após a alta  de 0,25 na ultima reunião, o mercado agora prevê que o BC adote um tom mais agressivo para conter a desencoragem da inflação. O consenso do mercado é uma elevação de 0,50 ponto percentual, levando a taxa de 10,75% para 11,25%.

Desde 2023, a Selic passou por cortes significativos, saindo de 13,75% para 10,50% em agosto. No entanto, o cenário mudou significativamente nos últimos meses. Agora, a previsão é que a Selic encerre o ano em 11,75%, o que implica dois aumentos de 0,50 ponto percentual nas últimas duas reuniões do ano.

O aperto monetário está ligado à piora das expectativas de inflação. Analistas consultados pelo Banco Central elevaram pela quinta semana consecutiva suas projeções de inflação para 2024. De acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 4, o IPCA deve fechar o ano em 4,59%, uma alta de 0,04 ponto percentual em relação à previsão da semana anterior. A projeção supera o teto da meta, que tem um centro de 3% e uma margem de tolerância de até 4,5%.

A desancoragem das expectativas inflacionárias está sendo alimentada pela desvalorização cambial e o aumento do risco fiscal. O dólar recentemente atingiu seu maior valor em quatro anos, aproximando-se de R$ 5,90, o nível mais alto desde o início da pandemia em 2020. Na segunda-feira, a moeda arrefeceu, mas segue em um patamar alto, cotada a R$ 5,78.

O câmbio elevado preocupa, pois intensifica a pressão inflacionária ao encarecer produtos importados. Além disso, o cenário internacional segue fazendo pressão com a guerra no Oriente Médio e as eleições presidenciais nos Estados Unidos aumentando a incerteza global.

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A Equus Capital, gestora de investimentos que utiliza inteligência artificial para prever movimentos de política monetária, desenvolveu o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS). De acordo com o IEPS, há uma probabilidade de 85,8% de que o Copom suba a Selic em 50 pontos-base nesta semana. “Esse percentual reflete a compreensão do mercado com a falta de medidas fiscais efetivas por parte do governo, bem como a incerteza sobre a trajetória econômica do país”, afirma Felipe Uchida, sócio da Equus Capital. Ele destaca que as taxas dos DIs superaram os 13%, sinalizando uma expectativa de juros mais altos e uma postura mais defensiva dos investidores.

A transferência das expectativas inflacionárias reflete não apenas o contexto local, mas também os choques internacionais. Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, os preços de alimentos e combustíveis têm mostrado pressão significativa, com o IPC-Fipe registrando alta de 0,80%, indicando que a inflação está longe de ser controlada. Essa alta nos preços de itens essenciais coloca o Banco Central em uma posição delicada: se não agir de forma estratégica, corre o risco de ver a inflação sair do controle. “Esse cenário requer atenção contínua para ajustes na política monetária, visando manter a inflação dentro dos limites estabelecidos e assegurar a estabilidade econômica”, diz Eyng.

O crescimento econômico também é outro agravante. O Boletim Focus prevê um crescimento de 3,10% para 2024, o que indica um cenário de aquecimento da economia, mas também uma possível complicação no controle da inflação. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta que “esse crescimento, embora bem-vindo, pode intensificar as pressões inflacionárias, tornando a tarefa do Banco Central ainda mais desafiadora”.

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A expectativa é que o governo brasileiro apresente ainda esta semana um pacote de cortes de gastos como forma de mitigar os riscos fiscais e aliviar a pressão sobre a política monetária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha uma viagem agendada para a Europa, o que inicialmente aumentou o nervosismo do mercado. No entanto, a pedido do presidente Lula, Haddad cancelou a viagem,  se reuniu com a Casa Civil e reacendeu as expectativas de que o anúncio do pacote de cortes ocorra nos próximos dias.

Lula, que tem sido um dos maiores críticos à elevação da Selic, já entrou em embates com o Banco Central devido à alta dos juros. Diante desse histórico, é possível que o governo apresente o pacote antes da próxima reunião do Copom, na tentativa de influenciar a decisão do Banco Central ou, ao menos, reduzir a magnitude do aumento previsto para a taxa de juros.

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