Marcopolo: Mudança de rota com destino certo
Com foco em produtos premium, empresa consolida a melhor fase de sua história e mira os próximos desafios do transporte global
A Marcopolo vive um momento de inflexão. Após enfrentar os efeitos prolongados da crise da mobilidade urbana — agravada pela pandemia e pela queda na demanda por transporte coletivo —, a empresa passou por ampla reestruturação. Em 2024, colheu os frutos: obteve os melhores resultados financeiros de sua história e consolidou um modelo mais enxuto, internacionalizado e voltado a produtos de maior valor agregado. “Estamos entregando hoje um nível de receita e de resultado muito superior ao que se viu em toda a história da empresa”, afirma o presidente André Armaganijan. A receita líquida consolidada, somando Brasil e exterior, foi de 8,6 bilhões de reais — alta de 28,6% em relação ao ano anterior. O lucro líquido foi superior a 1,2 bilhão de reais.
Um dos pilares dessa transformação foi a revisão do portfólio. Desde 2021, com a oitava geração (G8) de ônibus rodoviários, a companhia passou a disputar o segmento premium, apostando em desempenho e conforto. O foco está em atributos que reduzem o custo por quilômetro, ampliam a durabilidade e melhoram a experiência dos passageiros. “O G8 já está presente em mais de vinte países, com mais de 5 000 unidades vendidas”, diz Armaganijan.
A reconfiguração internacional também impulsionou o desempenho. Com onze fábricas em sete países, a Marcopolo obtém cerca de 30% da receita no exterior, combinando exportações e produção local. O encerramento de operações menos rentáveis e a concentração de recursos em mercados estratégicos aumentaram a eficiência global.
A diversificação em novos modais reforça o posicionamento de longo prazo. A Marcopolo Rail, divisão dedicada ao transporte ferroviário leve, já participa de projetos no Chile, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Embora ainda pequena em receita, a área simboliza a entrada da empresa em sistemas urbanos e intermodais, segmento que tende a ganhar relevância nas políticas de mobilidade.
A agenda de sustentabilidade também avança. Segundo Armaganijan, mais de 1 000 ônibus elétricos, desenvolvidos em parceria com fabricantes de chassis, já circulam em diferentes mercados. A empresa testa também um modelo híbrido a etanol e investe em materiais mais leves e recicláveis para reduzir peso e emissões.
Mesmo assim, o cenário setorial segue desafiador. O consultor Gregori Boschi, fundador da Boschi Inteligência de Mercado, observa que o mercado brasileiro de ônibus ainda depende fortemente de programas públicos, como o Caminho da Escola, do governo federal, para estimular a demanda. A expectativa é que, em 2025, a produção nacional beire os 30 000 veículos. “Nos últimos dez anos, só em três ocasiões superamos esse patamar”, diz Boschi. “Isso mostra o quanto o setor enfrenta dificuldades estruturais, apesar da necessidade de renovação da frota.”
Para ele, a aposta da Marcopolo no segmento premium ajuda a atenuar essas pressões. “A empresa tem um bom posicionamento no mercado rodoviário e vem se consolidando como uma grande exportadora de tecnologia”, afirma. O foco em valor agregado nesse segmento contribui para preservar margens em um ambiente de concorrência acirrada. “O ônibus tem muitos competidores no ambiente urbano, como metrô, VLT, carros por aplicativo, motos e até patinetes”, diz Boschi.
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19
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