Juros viram protagonistas e ‘vilão necessário’ dos países em 2022
A taxa usada como ferramenta da política monetária para calibrar as condições econômicas foi a principal arma de defesa contra a inflação

O mundo vivenciou uma elevação global nos juros no ano de 2022. A taxa usada como ferramenta da política monetária para calibrar as condições econômicas foi a principal arma de defesa contra a inflação, fenômeno que afetou as economias mundiais em consequência dos efeitos da pandemia de Covid-19 e da guerra no Leste Europeu. Embora eficiente no controle dos preços, o aumento nas taxas tem prenunciado uma desaceleração mundial para o próximo ano.
Nas últimas semanas, os países fizeram os últimos ajustes do ano nas taxas de juros. O Banco Central do Brasil decidiu pela manutenção da Selic em 13,75% – uma das mais altas do mundo – , mas segue persistente na atuação de trazer a inflação para dentro da meta, alertando para os riscos inflacionários que ainda estão no radar. A perspectiva do mercado era que o BC começasse a diminuir os juros no início de 2023, mas a deterioração fiscal no cenário doméstico, com as sinalizações de aumento de gastos pelo novo governo, aumentou a percepção de risco. A curva de juros futuro subiu para 14%, com o mercado precificando um novo aumento na Selic e a manutenção do atual patamar por tempo prolongado.
Nos Estados Unidos, o banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), continua realizando o aperto monetário. O Fed elevou em 0,50 ponto percentual a taxa de juros na sua última reunião na quarta-feira, 14, encerrando com o ano com a taxa no intervalo entre 4,25% e 4,50%, e com novas elevações já esperadas para o próximo ano. O presidente do Fed, Jerome Powell, descartou afrouxamento na política monetária, alertando que os riscos da inflação eram altistas e que não havia espaço para complacência. “Não acreditamos que uma redução de ritmo seja provável em fevereiro. O dólar permanecerá forte por alguns meses, mas dificilmente se valorizará mais. As moedas emergentes começam a parecer atraentes, especialmente aquelas com alto carrego e expostas à reabertura da China. As posições em juros deverão ser mais específicas. Alguns bancos centrais pararam prematuramente, enquanto outros estão em boa posição para esperar e cortar juros no final do ano. Outros ainda têm trabalho a fazer”, avaliam os economistas Jaime Valdivia, Tatiana Pinheiro e Rodrigo Jafet em relatório da Galápagos Capital. Segundo a gestora, ainda faltam 0,75 ponto percentual para o Fed atingir a taxa terminal do ciclo de aperto monetário.
O Banco Central Europeu (BCE) iniciou o ciclo de aperto monetário mais tardiamente, realizando a primeira elevação apenas em setembro deste ano. Nesta quinta-feira, 15, o banco fez a sua quarta e última elevação de 2022 nos juros. O aumento foi de 0,50 ponto percentual para 2,50% na taxa de refinanciamento e 2,75% na taxa de empréstimo, sendo essa a menor elevação do banco. Desde que iniciou o aperto monetário, as elevações foram de 0,75 ponto percentual. “A redução do ritmo de altas ocorre num momento em que, na margem, a inflação dá sinais de ter atingido o seu pico”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Segundo ele, a Zona do Euro deve enfrentar uma recessão no próximo ano e terá mais dificuldades de sair de uma crise do que EUA e China. “Para os próximos meses, é importante acompanhar o inverno no continente europeu. Nesse período, há um aumento da demanda por energia. Muitos países conseguiram abastecer seus estoques de gás natural – um dos principais insumos para geração de energia -, porém, podemos ver uma nova pressão sobre os preços”, observa. O banco continua sinalizando que os juros irão subir de forma significativa, a um ritmo constante, para levar a inflação para meta de 2%. Nesta quinta, 15, o Banco da Inglaterra (BoE) também elevou a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, passando de 3% para 3,5%, maior patamar desde 2008.