Juros dos bancos caem menos do que os da economia e spread sobe
Taxas cobradas nos empréstimos às pessoas físicas caíram de 55,7% para 54,2% entre 2022 e 2023, mas margens subiram de 42,5 para 43,5, de acordo com BC

Com as quedas da Selic, a taxa básica de juros do país, a partir de agosto do ano passado, ficou mais barato para os bancos captar dinheiro no mercado, o que eles fazem por meio da venda de aplicações financeiras, como CBDs e as cadernetas de poupança, por exemplo. Os juros cobrados por eles nos empréstimos concedidos, na outra ponta, caíram em menor intensidade, e o resultado é que o spread bancário encerrou 2023 mais alto do que em 2022.
Os dados fazem parte das estatísticas de crédito do país divulgadas nesta terça-feira, 6, pelo Banco Central.
Em dezembro de 2022, o custo de captação das instituições financeiras estava, em média, em 13,2%. Esse é valor médio dos juros pagos por elas naquele mês nas remunerações de produtos ofertados aos clientes e investidores como poupança, CDBs, LCAs ou LCIs. A remuneração dessas aplicações acompanha a taxa Selix e tende a cair junto com ela. Os juros médios dos empréstimos, na outra ponta, eram de 55,7% ao fim de 2022. Com isso, o spread, que é essa diferença entre os juros que os bancos pagam para levantar recursos e o que cobram para emprestá-los, era de 42,5 pontos percentuais.
Ao fim de 2023, o spread tinha subido para 43,5 pontos: de um lado, os juros de captação caíram 2,5 pontos no ano, dos 13,2% para 10,7% em dezembro do ano passado. Já as taxas dos empréstimos caíram apenas 1,5 ponto, de 55,7% para 54,2%. Os valores consideram os dados do BC sobre recursos livres, como crédito pessoal, concedidos a pessoas físicas. Financiamentos imobiliários e de veículos, por exemplo, que têm taxas de juros reguladas, ficam de fora dessa estatística.
Em dezembro de 2020, quando a Selic despencou a 2% os custos dos crédito despencaram, os juros médios dos empréstimos estavam em 36,8%, e o spread havia encolhido a 31,7. Em 2022, a Selic estava em 13,75%. Até dezembro de 2023, tinha sido cortada a 11,75% pelo BC e, atualmente, está em 11,25%.
Entre as razões para os bancos não baixarem os juros que cobram na mesma proporção do que aconteceu com a Selic e das aplicações financeiras, especialistas apontam o aumento da inadimplência, que chegou a níveis recordes em meados do ano passado. “A inadimplência nos bancos está nos maiores níveis da história, e inadimplência é custo, e os bancos repassam esse custo”, diz o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.
A inadimplência, ou seja, o custo que os bancos têm para arcar com os prejuízos dos empréstimos que não recebem de volta, representa atualmente cerca de um terço do spread, de acordo com Rabi. A inadimplência das pessoas físicas, de acordo com o Banco Central, caiu de 5,9% para 5,6% entre dezembro de 2022 e de 2023, depois de passar dos 6% no meio do ano. Em 2020, ela era de pouco mais de 4%. O número mede a quantidade de parcelas em atrasado do total devido aos bancos.