Inflação mostra alívio pontual, mas revela desafio estrutural para o BC
Desaceleração do IPCA-15 não convence economistas que avaliam que o cenário interno e externo mantém pressão sobre juros e crescimento

Os economistas avaliam que a inflação, ainda que tenha desacelerado , continua disseminada e altamente influenciada pelos preços dos grupos de Alimentação e Bebidas e de Saúde. Nesta sexta-feira, 25, o IBGE divulgou a prévia o IPCA-15, prévia da inflação do mês de abril que ficou em 0,43%, recuo de 0,21 ponto percentual em relação ao indicador de março, quando a alta foi de 0,64%. O dado veio ligeiramente abaixo das expectativas do mercado que apontavam para alta de 0,64%.
Apesar de sinais pontuais de arrefecimento, a inflação pressiona o cenário macroeconômico e não deve trazer alívio para política monetária contracionista do Banco Central. Com a taxa Selic em 14,25%, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou na ata da última reunião que fará mais um ajuste nos juros, menor do que 1 ponto percentual.
Patrícia Krause, economista-chefe para a América Latina da Coface, o dado do IPCA-15 não deve mudar a trajetória já que o resultado do IPCA-15 foi influenciado por pela queda nos preços das passagens aéreas, que são um item volátil e tiveram queda de 14,28%. “Não muda muito a visão ainda de que a inflação está disseminada”.
Na visão da economista, a persistência na queda dos preços das commodities poderia ajudar um pouco o trabalho do Banco Central, mas o cenário externo incerto é um fator que deve aparecer na comunicado. Ela prevê que o BC deve subir a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião. ” Deve aparecer comentário dizendo que o cenário externo está bastante incerto e que exige cautela nas decisões, e o BC pode deixar em aberto os próximos passos”, diz.
Mesmo com alívio em alguns preços, José Alfaix, economista da Rio Bravo, avalia que “as questões domésticas dificultam a visão de uma desinflação sustentável no curto-prazo. Ele ressalta que no acumulado em doze meses, o índice atinge 5,49%, “distanciando-se ainda mais da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central.”
Filipe Ferreira, diretor da Com Dinheiro/Nelógica, vê na inflação de abril a confirmação de um problema estrutural. “Mesmo com sinais de alívio em preços administrados, a inflação de abril reforça um ponto-chave: o Brasil tem um problema inflacionário crônico no setor de serviços. Isso tem raízes profundas no mercado de trabalho aquecido, nos reajustes salariais e nas políticas de fomento ao consumo que alimentam a pressão de demanda”.
Ele afirma que a alta dos serviços subjacentes compromete o processo de desinflação e empurra qualquer expectativa de corte nos juros ainda mais para o futuro. ” Embora o número de abril tenha vindo um pouco abaixo das leituras anteriores, essa prévia de inflação ainda roda muito acima da meta do Banco Central, o que deve manter as pressões sobre a taxa Selic — que dificilmente terá espaço para recuar num horizonte próximo”, diz.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, destaca que o dado do IPCA-15 comprova a dificuldade do país em ancorar expectativas. “Mesmo com a desaceleração em combustíveis e energia, os preços de alimentos e serviços não dão trégua.” Segundo ele, essa inflação é “resiliente, resistente a choques de oferta e sensível à demanda interna”. Lima avalia que, diante desse quadro, “o Banco Central se vê encurralado entre combater a inflação e não sufocar a atividade econômica. A tendência agora é de manutenção ou até alta da Selic, o que pode travar ainda mais o crescimento.”
Laércio Hypólito, sócio da OnField Investimentos, afirma que o IPCA-15 veio em linha com as expectativas do mercado e chama atenção para as declarações de dirigentes do Banco Central que nesta semana disseram já enxergar os efeitos da política monetária contracionista na economia do Brasil. “Com uma inflação controlada, dentro do esperado, podemos ter esperanças para um fim do ciclo de alta da taxa Selic.”