Inflação dos núcleos acelera e cria nova pressão sobre o BC
Dos nove grupos, sete apresentaram alta. A conjuntura indica uma possível expansão econômica, dificultando a tarefa do BC em manter a inflação na meta de 3%

O impacto da inflação de janeiro reverberou intensamente no mercado, lançando uma sombra de incerteza sobre as expectativas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o mês em 0,42%, ultrapassando as estimativas e deixando em alerta tanto analistas quanto o Banco Central. A aceleração dos núcleos da inflação adicionou um novo elemento de preocupação, sugerindo uma possível economia em expansão e complicando os esforços do BC em manter a inflação ancorada na meta de 3%. No acumulado em 12 meses, a inflação recuou de 4,62% para 4,51%, ainda assim permanecendo acima do centro da meta estabelecida.
O resultado do IPCA não apenas superou a mediana das projeções dos analistas, mas também as expectativas do próprio Banco Central, que projetava uma variação de 0,26% em janeiro, como indicado no Relatório de Inflação de dezembro. Entretanto, o verdadeiro desafio emerge dos núcleos de inflação, que têm sido o foco do Comitê de Política Monetária (Copom). Essas medidas, que excluem os componentes mais voláteis, buscam captar o dinamismo da economia e do mercado de trabalho na formação dos preços. Dos nove grupos de pesquisa, sete apresentaram alta. “Diante disso, há um sinal de alerta para a política monetária, que conversa bem com o balanço de riscos que o Banco Central descreveu na ata”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Um dos indicadores cruciais é a inflação subjacente de serviços, que registrou 0,76% em janeiro, superando as expectativas. A ata do Copom, divulgada recentemente, revelou que a evolução da inflação até o IPCA-15 de janeiro estava alinhada com as expectativas. No entanto, os membros do colegiado discutiram em profundidade as oscilações na inflação de serviços, especialmente no núcleo de serviços subjacentes. Esse núcleo é fortemente influenciado pelo aquecimento da economia e do mercado de trabalho, mas também pode ser impactado pela inflação importada, expectativas e inércia inflacionária. “Reconhecemos uma piora no cenário inflacionário, principalmente devido ao resultado dos serviços subjacentes”, diz Rafael Costa, analista e membro do time de estratégia macro da BGC Liquidez. No entanto, acreditamos que essa surpresa altista nos serviços subjacentes foi bastante concentrada em um único item (serviço bancário), e esperamos que a inflação desse item recue nos próximos meses”.
Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o resultado frusta a expectativa de uma eventual aceleração do corte de juro para a próxima reunião. “Avaliamos que apesar de ruim, não se trata de um dado que irá alterar o plano de voo do Copom”, diz. No entanto, resta saber se o resultado foi ruim o suficiente para gerar maiores receios à continuidade do ritmo de 0,5 ponto percentual para a condução da Selic.