Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Inflação de outubro tem a maior alta desde 1995

Indústrias e produtores estão recompondo preços que caíram no auge do isolamento social, mas inflação também é causada pela alta do dólar

Por Josette Goulart 23 out 2020, 11h20

Inflação é aquele ser invisível que vai corroendo o poder de compra das pessoas. Na prática, é o salário valendo menos. E a inflação prévia de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), teve uma alta de 0,94%. Quem olha de relance pode achar que é pouco, mas segundo o IBGE, este é o maior resultado para um mês de outubro desde 1995. Naquele ano, foi de 1,34%. No ano passado, foi de 0,09%. Então dá para notar que a inflação está bem alta. E os preços que mais estão subindo são de comida, bebidas e transportes, além do que o IBGE chama de artigos de residência. A carne, o arroz, tv, som, informática, passagens aéreas. Tudo está mais caro agora em outubro, segundo os dados do IBGE. E por que os preços estão subindo? As explicações são muitas e algumas envolvem as distorções causadas pela pandemia.

No auge do isolamento social, no fim de março e abril, pegando até parte do mês de maio, houve uma quebra forte dos preços. Produtores e industriais tinham que dar vazão a estoques e venderam mais barato. Isso significa que mesmo que coloquemos a inflação em cima destes produtos, os preços ainda estão mais baixos do que antes da pandemia, como explica o doutor e sócio do Markestrat, José Carlos de Lima Júnior. Então é natural que haja inflação por conta desta recomposição de preços. Assim como é natural que o arroz esteja mais caro e boa parte da alta não tem nada a ver com a pandemia. É que há dois, três anos que os agricultores largaram mão de plantar arroz para plantar soja, então tem menos arroz no mercado. Logo, o preço sobe. Mas a pandemia acabou potencializando a alta dos preços por conta que as pessoas comem mais arroz quando ficam em casa. Sem contar que o auxílio emergencial também puxou o consumo, especialmente dos alimentos. No Nordeste, famílias inteiras passaram a consumir carne depois do auxílio emergencial. Porque, se 600 reais é quase nada em São Paulo, traz muito mais poder de compra no Nordeste por conta do menor custo de vida.

Mas tem um outro problema que traz o fantasma da inflação: o câmbio. A moeda brasileira sofreu uma maxidesvalorização nesta pandemia. E dólar caro afeta quase todas as cadeias de produção. Inclusive a do campo, já que boa parte dos fertilizantes, por exemplo, são cotados na moeda americana. Na indústria, o problema também é grave. As cadeias produtivas queimaram seus estoques que tinham sido feitos com um dólar a 4 reais. A recomposição se dará a um dólar de 5,60 reais. Boa parte das indústrias tem em sua cadeia alguma matéria prima importada ou que possuem preços balizados pelo dólar no mercado internacional. Isto significa que o Brasil deverá enfrentar uma retomada com os preços pressionados e causando inflação.

O presidente da associação da indústria de eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge do Nascimento Júnior, conta que seu setor está a mil. Trabalhando a 100% da capacidade. Black Friday e Natal estão garantidos. Mas isso significa que existe um elevado consumo de matéria prima. A demanda por si só já tem elevado os preços, porque outros elos da cadeia estão sem estoque por conta da pandemia. Só que boa parte disso tudo é atrelado ao dólar. Ou seja, os insumos para produzir eletroeletrônicos já estão de 20% a 30% mais caros segundo Nascimento. Em algum momento, terão de repassar preços a consumidor final.

Continua após a publicidade

Mas afinal por que o dólar está tão alto? Parte é explicada por uma outra distorção, os exportadores não estão trazendo todo o dinheiro do que vendem lá fora para o Brasil. Entra menos dólar, o dólar fica mais caro. Isso pode ser observado especialmente na exportação de soja. Lima, da Markestrat, explica que o movimento acontece porque a soja é exportada por tradings internacionais que neste momento não têm incentivo financeiro para trazer os dólares para o Brasil já que os juros aqui estão muito baixos. Além disso, o dinheiro também está sendo usado para pagar dívidas feitas no exterior. Se nem o dinheiro da exportação está voltando o que dizer do dinheiro novo. Juros baixos que não compensam o risco, crise fiscal e política ambiental são os três fatores que influenciam a decisão de investimentos.

A política ambiental tem inclusive prejudicado também o setor agropecuário, quando consumidores internacionais começam a questionar as práticas brasileiras. A questão ambiental foi um ponto colocado pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos  Neto, para explicar porque o Brasil tem recebido menos fluxo de dólares do que os pares estrangeiros. “O que começou a ficar mais aparente é essa percepção em relação a tudo que é uma agenda de sustentabilidade, hoje tão disseminada em outros países. Essa percepção, às vezes pela narrativa ou às vezes pelo que tem acontecido, estava fazendo com que os fluxos para o Brasil não estivessem voltando na mesma proporção que eles voltavam em alguns países emergentes. De fato, existe essa preocupação (ambiental)”, disse Campos Neto em entrevista à CNN Brasil na semana passada. E dólar alto significa inflação.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.