Inflação de 200%? Os países com os índices de preços mais altos no mundo
Escalada de preços preocupa em todo mundo, mas é ainda maior em países com forte instabilidade política, como Venezuela e Argentina

A guerra na Ucrânia e os problemas de abastecimento no mundo, que ainda se recupera da Covid-19, são os impulsionadores da inflação em diferentes países no globo. Nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, o nível inflacionário é o maior em 40 anos, na faixa de 8,6%, mesmo nível da União Europeia. Com histórico de estabilidade macroeconômica, o alarde com o aumento da inflação nos países desenvolvidos é instantâneo. No Brasil, a inflação também preocupa e segue na casa dos dois dígitos, marcando 11,89% em 12 meses encerrados em junho.
Entretanto, esses indicadores não chegam perto dos níveis hiperinflacionários que atingem alguns na América Latina, África e a até mesmo da Europa (ou Eurásia). Nos países em questão — Venezuela, Argentina, Turquia, Zimbábue e Sudão — a intensa inflação tem um denominador comum: forte instabilidade política. Considerando dados oficiais dos Bancos Centrais dos países compilados por VEJA, confira cinco países com escalada de preços entre de 50% a 200%.
Venezuela
Depois de níveis de quase 700% (exatos 686,4%) em 2021, a escalada de preços está em nível menor, mas ainda muito alarmante. A taxa está em 167,2%, no espectro de 12 meses, conforme os dados de maio deste ano (os dados de junho ainda não foram divulgados pelo BC venezuelano). Com aumento da produção de petróleo e melhorias no abastecimento de bens e produtos, já são vislumbrados leves sinais de recuperação da crise econômica que afeta o país desde 2013, responsável pelo êxodo de 6 milhões de venezuelanos. Porém, a situação continua grave e pouco estabilizada.
Argentina
Depois da Venezuela, é o pior cenário dentre os países latino-americanos, com uma inflação de 60,7% no acúmulo anual. Os fatores externos, motivos de crise mundo afora, são complementados pelos graves problemas internos, arrastados por anos. Marcado por forte desequilíbrio fiscal (quando há continuamente mais gastos do que arrecadação), o nível de risco-país da Argentina estava em 2.654 pontos-base no início deste mês, um pico recorde, segundo indicador compilado pelo banco JPMorgan.
Turquia
O maior nível inflacionário em 24 anos no país é um dos exemplos de intervenção direta de governos nas decisões dos bancos centrais. A inflação de 78,62% no acúmulo anual, registrada em junho, tem raízes na política monetária imposta pelo governo (de redução na taxa de juros, na contramão do mundo) e, no momento, está sendo impulsionada pelas condições externas como a Guerra na Ucrânia, sobretudo nos preços de transportes e alimentos. Segundo o Instituto Turco de Estatística (TUIK), a primeira categoria acumula alta de 123,37% e a segunda teve crescimento de 93,93%.
Zimbábue
Para os padrões dos últimos anos no país, uma inflação 191,6% não é o pior cenário. Em junho de 2020, o nível inflacionário estava em aumento de 737,3% no acumulo anual. Considerando o intervalo de janeiro de 2019 a junho de 2022, o pior resultado foi em julho de 2020, com taxa de 837,5%. Os números arrebatadores são consequências da política monetária ultra-expansionista do governo do ex-presidente e ditador Robert Mugabe (1924-2019), que governou o país de 37 anos e passou por cima de leis do mercado.
Sudão
A taxa de inflação está em 192,2%, em acúmulo anual, até maio. É o melhor resultado neste ano e bem abaixo de julho de 2021, quando o nível inflacionário estava em 422,78%. Os indicadores econômicos, com graves efeitos práticos, como a fome no país, têm relação direta com a forte instabilidade política na região, incluindo o golpe militar de outubro de 2021.