Inflação ao produtor é recorde em outubro por dólar e alta na demanda
Índice que mede preços na 'porta da fábrica', sem impostos e frete, subiu 3,40% e atingiu maior valor da série histórica
A retomada da economia desde o momento mais agudo da crise do novo coronavírus tem feito com que as coisas fiquem um pouco mais caras. Pode parecer paradoxal, mas a queda brusca na demanda por suprimentos básicos e a volta rápida depois de as atividades atingirem o fundo do poço pressionam os preços nas indústrias e, pouco a pouco, vão chegando ao consumidor. Segundo o Índice de Preços ao Produtor (IPP), medido pelo IBGE e divulgado nesta quinta-feira, 26, os custos subiram 3,40% em outubro frente o mês anterior, marcando a maior alta do indicador, que é medido desde janeiro de 2014.
Esse é o décimo quinto aumento consecutivo na comparação mês a mês do indicador, que mede a variação dos preços de produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e frete, de 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação. Em outubro, 23 delas subiram. No ano, o IPP acumula alta de 17,29%. Já nos últimos 12 meses, a inflação da indústria chegou a 19,08%.
O principal reflexo é visto na atividade de alimentos, que tem o principal peso no índice geral (cerca de um quarto do indicador). Segundo o IBGE, houve aumento de 4,60% no mês, mantendo as variações positivas observadas desde julho. No acumulado do ano, a variação foi de 28,36% e, em doze meses, de 35,89%. Ambas são as maiores de suas séries. O aumento no preço dos alimentos, aliás, é o que mais vem pressionando o orçamento das famílias no IPCA, o índice de inflação oficial do país, que registrou alta geral de 0,81% em outubro.
No caso da indústria – que acaba repassando parte de seus custos, fatores como a alta da demanda por alimentos em todo o mundo e a alta do dólar são as maiores influências para as variações positivas. “A gente olha os dez produtos dentro de bens intermediários, que mais influenciaram o resultado, seis são alimentos: dois derivados de soja, dois derivados da cana-de-açúcar, carne suína e rações. Os cinco primeiros têm o efeito de uma demanda externa que está pressionando os preços no mercado internacional, mas também do câmbio”, explica o pesquisador do IBGE Alexandre Brandão.
Além dos alimentos, pressionaram o indicador da inflação na porta da fábrica as altas na indústria extrativa, produtos químicos e metalurgia. Em outubro, a variação média de preços na indústria extrativa foi de 9,71%, sétimo aumento consecutivo no ano. Com isso, até outubro, os preços em 2020 variaram 50,31% e, na comparação com o mesmo mês de 2019, a variação foi de 53,64%. Esses resultados estão influenciados pelo câmbio, com depreciação do real frente ao dólar de 4,2% (outubro contra setembro), de 36,9% (entre dezembro de 2019 e outubro de 2020) e de 37,6% (nos últimos 12 meses). Também refletem o movimento dos preços internacionais de “óleo bruto de petróleo” e “minérios de ferro e seus concentrados”.