Em março, quando o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o general Joaquim Silva e Luna e indicar o economista Adriano Pires ao cargo de presidente da Petrobras, Paulo Guedes estava distante. O ministro da Economia, que assumiu o posto em 2019 com ares de super ministro, acompanhava de longe as mexidas de Bolsonaro, avalizadas pelo Centrão. Pouco mais de dois meses depois do reajuste nos combustíveis que culminou na primeira mexida nesse ano, Guedes volta a ter força no núcleo que concentra a maior preocupação de Bolsonaro.
Em menos de duas semanas ele emplacou dois de seus secretários em cargos estratégicos. Então assessor especial de Guedes, Adolfo Sachsida virou ministro de Minas e Energia após a saída de Bento Albuquerque. Há menos de duas semanas e, nesta segunda-feira, 23, conseguiu elevar seu secretário de Desburocratização, Caio Mário Paes de Andrade, à presidência da Petrobras.
Em nota publicada na noite dessa segunda pelo Ministério de Minas e Energia, a pasta cumprimenta José Mauro Coelho “agradecimentos aos resultados alcançados em sua gestão” frente a estatal, que durou de 13 de abril até esta noite.
Guedes busca por uma alternativa que consiga emplacar um programa sólido de redução do preço dos combustíveis para aplainar a inflação — e os impactos nocivos, também, para a imagem de Bolsonaro, em campanha pela reeleição. A solução mais benquista dentro do Ministério envolve a criação de um fundo que subsidie a flutuação dos preços, sem interferência direta na política de preços da Petrobras, atrelada ao mercado internacional. Apesar disso, o mercado vê que o perfil liberal do novo presidente da Petrobras — o terceiro deste ano — não deve levar a grandes mexidas na política de preços da estatal. A aposta é que o novo comandante da estatal ajude na estruturação dos estudos para a privatização da companhia, colocada em pauta após a troca do Ministério de Minas e Energia e com o aval do presidente da República.
Caio Mario Paes de Andrade atuava como secretário de desburocratização no Ministério da Economia, responsável pela condução dos planos da reforma administrativa, que visa modernizar o serviço público. Ele foi aventado como possível presidente da estatal em março, pouco antes de Bolsonaro anunciar a demissão de Silva e Luna, mas foi preterido por Adriano Pires e posteriormente por José Mauro Coelho. Na época, empresários do setor e até mesmo pessoas próximas a Paulo Guedes disseram a VEJA que a pouca experiência do então secretário de Guedes no setor de petróleo poderia ser um impeditivo para que ele assumisse o cargo.
Combustíveis
A disparada do preço dos combustíveis é, talvez, a maior preocupação de Bolsonaro em pleno ano eleitoral. O pré-candidato a presidência pelo PL vê sua popularidade ser corroída pelo aumento acelerado nos preços que desde setembro estão acumulados acima dos dois dígitos. Com peso em toda cadeia produtiva, os combustíveis pressionam ainda mais os preços, causando alta generalizada na economia.
No ano, o diesel já subiu cerca de 30%, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O combustível custava em média, 6,943 reais nas bombas de todo o país, um novo recorde segundo a agência. Já a gasolina subiu cerca de 9%. O litro médio ficou em 7,275 reais.