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“Governo tem de apagar incêndio com água suja”, diz ex-diretor do BC

Para Assis, a implementação de um ajuste fiscal de qualidade no Brasil está fora de cogitação

Por Luís Lima 12 mar 2015, 14h02

A implementação de um ajuste fiscal de qualidade no Brasil está fora de questão e, dada à gravidade do cenário macroeconômico, o governo consegue fazer o “possível” dentro de suas limitações. A opinião é do ex-diretor do BC Luis Eduardo Assis. “Agora, resta [ao governo] apagar incêndio com água suja. Terá que aprovar medidas como a recriação da CPMF, o contingenciamento de despesas, e isso tudo, do ponto de vista político, é absolutamente tudo o que os partidos de coalizão não precisam, nem querem”, afirmou, durante palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), nesta quinta-feira, em São Paulo. O tema do encontro foi a instabilidade política que tensiona a relação entre Executivo e Congresso e atravanca a o avanço de reformas na economia do país.

Em meio à crise política, o ex-diretor do BC define o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como a pessoa certa, no lugar e na hora errada. “É um grande economista, sabe que tem que fazer um ajuste fiscal, absolutamente necessário, porém é tardio, está atrasado”, afirmou Assis. Segundo ele, a mudança seria muito mais “indolor” se tivesse começado há cerca de três anos. “O ministro é um estranho no ninho e enfrenta oposição dentro do próprio governo. Isso porque ninguém gosta de ajuste, isso é coisa de economista”, disse, exemplificando a aversão que alguns deputados têm a cortes de gastos.

“Há inclusive apostas no mercado sobre o tempo de permanência do ministro: um ano, um ano e meio, não sei. É isso que veremos nos próximos meses” afirmou. Segundo ele, a crise política tem tudo para se agravar. Do ponto de vista econômico, Assis aposta em um 2015 ruim e um 2016, possivelmente, um pouco melhor.

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Também presente no evento, Gustavo Fernandes, professor da FGV e assessor econômico do Tribunal de Contas de São Paulo, criticou o esgotamento do modelo desenvolvimentista adotado por Dilma. “No fundo, estamos perdidos, tentando encontrar um novo modelo de desenvolvimento”, afirmou. “Tanto o modelo econômico ruiu como o sistema político não se desenvolveu a contento para dar uma resposta para isso”, afirmou.

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O economista Marcos Fernandes, também da FGV, concorda com o insucesso da política econômica adotada pela presidente, com o abandono da agenda de reformas microeconômica e a equivocada política industrial vigente. Mas, apesar de classificar Dilma como um Geisel de saias – sendo que “Geisel era mais flexível”, Fernandes manifestou otimismo em relação ao futuro. Para ele, o Brasil passou por mudanças institucionais positivas, que inclui a constituição de uma classe média consolidada e uma revolução educacional significativa. “Acredito que estamos passando por uma mudança, o Brasil está deixando de ser tão hierárquico. Sarney vai ficar um fóssil”, brincou.

Em sua fala, a editora-chefe do jornal O Estado de S. Paulo, Cida Damasco, disse que há uma certa esquizofrenia no atual debate político, especialmente nas redes sociais, em que extremistas, simpatizantes do PT e oposicionistas, se unem para inviabilizar o ajuste fiscal. “Não há um debate sobre o ajuste: se é importante, se é bem feito, suficiente, ou mesmo o que vem depois dele. Eu não consigo ver essa discussão”, alerta.

Jornalista e autor do livro “Inflação, juros e crescimento no governo Dilma”, Fábio Alves reforçou o crescente condicionamento da agenda econômica à política – um cenário que não é positivo para o país. Ele fez um paralelo com a situação de Graça Foster, que foi mantida por muito tempo na presidência da Petrobras mesmo após os escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, e classificou o núcleo político da presidente como desgastado. “Não dá pra dizer que vai melhorar. O DNA da presidente acaba falando mais alto”, lamentou.

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