ASSINE VEJA NEGÓCIOS

“Governo e BC precisam alinhar as expectativas”, diz ex-diretor do BC

Na avaliação de Tony Volpon é improvável uma resposta do Banco Central nos juros na próxima reunião

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 mar 2023, 20h26 - Publicado em 3 mar 2023, 13h54

O presidente Lula começou seu mandato criticando as altas taxas de juros, que atualmente estão em 13,75%. As críticas aumentaram significativamente nos dias seguintes à primeira reunião do Banco Central, em fevereiro. Lula não concordou com os termos do comunicado do BC que justificava a manutenção da taxa elevada, chamou a situação de “vergonhosa” e passou a atacar a autarquia quase que diariamente. Ele questionou a meta de inflação baixa que incentivava a manutenção dos juros altos e ameaçou rever a autonomia do Banco a partir de 2025, quando o mandato do atual presidente terminasse. No entanto, nos últimos dias, as tensões entre o governo e o Banco Central pareciam ter diminuído após um acordo tácito ser alcançado nessa disputa.

“Tivemos uma trégua na relação, e a aceitação de um tipo de acordo implícito entre o governo e o BC na sequência de eventos, onde primeiro a Fazenda ‘entrega’ na questão fiscal para o BC entregar no afrouxo monetário”, diz Tony Volpon, ex-diretor do BC, cotado para ocupar o posto de diretor de política monetária da instituição. Mas essa paz não deve perdurar muito tempo se não houver alinhamento das expectativas, alerta o economista.  

Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a fazer um apelo ao BC para a redução dos juros ao anunciar a reoneração dos combustíveis e a taxação do imposto sobre exportação do petróleo, medidas que devem arrecadar 28,88 bilhões de reais aos cofres públicos. “Estamos adotando essas medidas porque o Banco Central estabeleceu em sua ata que são necessárias para iniciar a redução das taxas de juros, as quais estão prejudicando significativamente nossa economia. Essa resposta visa atender aos anseios do setor produtivo. O governo vai fazer a sua parte, esperando que o BC reaja de acordo com o previsto em suas próprias atas”, disse. 

A adoção dessas medidas é uma conquista significativa para Haddad, como mostra reportagem de VEJA, pois faz parte de sua agenda garantir a recomposição da receita para reduzir o déficit e entregar cerca de 1% do PIB ainda este ano. No entanto, ainda há muitos obstáculos a serem superados. “Embora Haddad tenha solicitado uma redução na taxa de juros, é improvável que o BC responda positivamente apenas com base nessa medida”, diz Volpon. 

Existe preocupação no mercado com a capacidade de recomposição das receitas, que depende em parte do Congresso e o qual é conhecido por ser resistente a aumentos de impostos, e com a proposta de uma nova âncora fiscal, que pode não ter mecanismos críveis de controle de gastos. “O governo precisa mostrar resultados para atender às expectativas e o BC só pode considerar o que já foi aprovado no Congresso em sua metodologia e método, e, atualmente, essas medidas ainda são propostas”, aponta o economista.

Continua após a publicidade

O governo atual acredita que a inflação é causada por choques de oferta e pelo “descontrole” fiscal do governo anterior, e espera que o corte na Selic ocorra assim que a questão fiscal for resolvida. “Há um desencontro de expectativas do governo com o Banco Central em relação ao que seria suficiente para permitir um corte na taxa de juros. É preciso alinhar essas expectativas”, diz. A decisão do Banco Central sobre a política monetária não depende somente da solução do problema fiscal, mas também de fatores externos e da inflação.

No começo do ano, havia previsão de redução dos juros, mas os ataques de Lula às metas de inflação e aos juros mudaram as expectativas, resultando em uma previsão de inflação mais alta e juros elevados por um período mais longo. O mercado espera uma inflação de 5,90% este ano, em comparação com 5,74% há um mês. “Se a definição de ‘entregar’ utilizada pelo Banco Central se basear fortemente na pesquisa Focus, é improvável que haja uma resposta positiva do BC nas próximas reuniões do Copom. Portanto, é crucial que o Banco Central estabeleça claramente as condições necessárias para iniciar uma redução dos juros e forneça essa informação diretamente, não apenas por meio de atas”, diz Volpon. Caso contrário, o ex-diretor alerta que a recente estabilidade pode desaparecer rapidamente, resultando em consequências negativas para a economia e para todos os envolvidos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Veja Negócios impressa todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.