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“Galípolo convencerá mercado de que Selic é indecente”, diz Paulo Feldmann

Para o economista da FEA-USP, Galípolo reúne as condições necessárias para baixar os juros sem brigar com a Faria Lima

Por Márcio Juliboni 7 out 2024, 19h14

Convencer a Faria Lima que o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, é “indecente” e baixá-la para níveis “civilizados” será a maior missão de Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central, que se prepara para assumir a presidência a partir de 2025. A avaliação é do economista Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.

Para Feldmann, que conheceu Galípolo em 2022, durante o governo de transição do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o provável sucessor de Roberto Campos Neto sabe que os juros altos são o principal problema do país, com uma série de consequências que vão do desestímulo a investimentos produtivos até o aumento da dívida pública.

Galípolo será sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira, 8. Segundo senadores da situação e da oposição ouvidos por VEJA, a aprovação do indicado de Lula é dada como certa. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa com Feldmann:

Como o senhor avalia as declarações de Galípolo, às vésperas de sua sabatina no Senado? Elas têm sido muito cuidadosas e muito adequadas para quem pretende ser aprovado nessa sabatina. Ele não poderia ter o discurso do ministro Fernando Haddad, de quem foi secretário executivo na Fazenda, por exemplo, porque poderia comprometer sua aprovação. Por outro lado, ele não é um típico faria limer, mas é respeitado pela Faria Lima. Foi banqueiro e conhece bem os problemas do mercado financeiro. E poucos conhecem tão bem, quanto ele, os problemas do governo. Dificilmente, Lula conseguiria um nome com uma aprovação tão certa. Qualquer outro nome mais próximo do Partido dos Trabalhadores seria muito questionado.

Ele será capaz de conciliar as demandas de Lula e do mercado? Galípolo conhece os dois lados – a visão do mercado e a do governo. Isso é importantíssimo, porque no meio dessas visões diferentes está a questão dos juros. A maioria dos brasileiros não sabe, mas, neste ano, as despesas com juros deve ficar entre 800 bilhões e 1 trilhão de reais. O governo simplesmente não tem condições de pagar isso todos os anos. A dívida sobe, porque os juros estão muito altos. Se a taxa não fosse tão alta, o governo teria melhores condições de pagar os juros da dívida. Isso já aconteceu recentemente. Na época da pandemia de covid-19, a Selic caiu para 2% ao ano.

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Cortar gastos e gerar superávit não é um modo para controlar a dívida? Isso é muito difícil de se fazer. Quando se obtém superávit, é tão pequeno, que não refresca absolutamente nada. É válido que se queira reduzir a dívida, mas, para isso, é fundamental que se baixe a taxa de juros. Galípolo conhece muito bem essa questão. Participei do governo de transição de Lula e, nas reuniões, percebi claramente que Galípolo tem essa visão de que a despesa com juros é a maior despesa do governo brasileiro. Os gastos com a previdência não chegam a metade disso.

Mas os juros altos não ajudam a combater a inflação? Isso é conversa para boi dormir. Os juros deveriam ser bem mais baixos. Digamos que isso fosse verdadeiro. Mesmo assim, o correto seria colocar a taxa um pouco acima da inflação, como fazem os outros países. No Brasil, essa diferença, que são os juros reais, está entre as maiores do mundo. Isso inibe os investimentos produtivos. Que empresário assume o risco de empreender, se pode deixar o dinheiro aplicado com rentabilidade alta? É ruim para o país, é ruim para o governo, é ruim para todos. É por isso que a aprovação de Galípolo para presidir o Banco Central é importante.

Por quê? É claro que o poder do mercado é muito forte, e os agentes financeiros respeitam Galípolo. O mercado entenderá os argumentos de Galípolo. Ele é a pessoa certa para mostrar para o mercado que essa taxa de juros é indecente e que ela precisa ser reduzida. Ele fará isso com competência e habilidade. Acredito que, no fim de seu mandato no BC, o Brasil terá uma taxa de juros civilizada. Se não for o Galípolo, ninguém conseguirá.

Na sua avaliação, que argumento de Galípolo convencerá o mercado de que é bom baixar os juros? O principal é que juros baixos farão o país crescer a taxas muito maiores. Nos últimos dez anos, crescemos menos de 2% ao ano. Um país como o nosso precisa crescer de 4,5% a 5%. Galípolo foi professor e conhece o assunto. O crescimento é bom também para o mercado financeiro.

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Qual o ritmo ideal de queda dos juros? Ele terá quatro anos para baixar a Selic. Não será da noite para o dia. No fim de seu mandato, acredito que chegaremos a uma taxa civilizada. Será um jogo difícil, mas Galípolo não comprará briga com o mercado. Ele é muito diplomático e conversará com todo mundo para expor seus argumentos.

Em que medida o cenário internacional, com o aumento de tensões no Oriente Médio e outros fatores, dificulta a queda dos juros? O cenário externo está muito delicado e o Brasil depende muito dele. Se as tensões escalarem, provocarão um crescimento linear da inflação que repercutirá no Brasil. Mas isso são conjecturas, e eu não apostaria nelas.

Outro fator que pode pressionar os juros é o impacto das mudanças climáticas. O senhor vê um choque inflacionário gerado pela inflação de alimentos? O mercado levanta muito essa questão de que o agronegócio provavelmente terá de subir seus preços no ano que vem, por conta das quebras de safra. É uma possibilidade, mas isso não justifica uma alta dos juros agora, antecipando-se a algo que não sabemos se ocorrerá de fato. É melhor esperar o impacto concreto desses eventos climáticos.

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