“Fundo de florestas pode triplicar recursos para a Amazônia”, diz diretor da Conservação Internacional
Segundo Gustavo Souza, a iniciativa do governo brasileiro pode ser "uma virada de chave" para a proteção das florestas equatoriais
A COP30 em Belém representa uma oportunidade histórica para transformar o financiamento da conservação florestal no Brasil e no mundo. Em entrevista ao programa VEJA+Verde, Gustavo Souza, diretor sênior da Conservação Internacional, defende que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa do governo brasileiro, pode ser “uma virada de chave” para a proteção das florestas equatoriais, triplicando os recursos destinados à Amazônia.
Souza apresenta dados concretos que revelam a dimensão do desafio. Desde 2013, o Banco Mundial identificou uma lacuna de financiamento de 7 bilhões de dólares anuais para evitar que a Amazônia atinja o ponto de não retorno, a partir do qual o desmatamento entrará em um processo irreversível. No entanto, o que efetivamente chegou através de ajuda internacional, filantropia e fundações foi entre 600 e 700 milhões ao ano — apenas 10% do necessário. “Com o TFFF operacional, a Amazônia poderia receber entre 1,8 e 2 bilhões de dólares, a gente está falando de pelo menos triplicar os recursos que hoje vêm para a proteção”, afirma o especialista.
O modelo inovador do TFFF inverte a lógica tradicional de financiamento. Ao contrário do mecanismo REDD+, que usa carbono como unidade de medida, o novo fundo pagará por hectare preservado, monitorado via satélite. A estrutura prevê capitalização inicial de 25 bilhões de dólares através de fundos soberanos, com ambição de alcançar 125 bilhões. Os recursos serão geridos pelo Banco Mundial, aplicados com retorno esperado de 7% a 8%, dos quais 4% retornariam aos investidores âncora e o restante seria transferido aos países detentores de florestas tropicais.
Outra prerrogativa inovadora do TFFF é alocar 20% dos recursos para acesso direto dos povos indígenas, atendendo demanda histórica dessas comunidades. “São os povos indígenas, juntamente com comunidades locais, que têm dois terços das florestas tropicais do mundo sob sua tutela”, destaca Souza. O mecanismo reconhece que os recursos para territórios indígenas normalmente são intermediados, mas agora poderão chegar diretamente através de programas ou editais específicos.
Sobre os demais avanços esperados da COP30, Souza deposita confiança na capacidade brasileira de fortalecer o multilateralismo em momento crítico, especialmente diante de lacunas como a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. “Se existe um país capaz de, de fato, retomar e fortalecer o multilateralismo, é o Brasil”, afirma. A presidência brasileira tem trabalhado intensamente para acelerar a implementação através das agendas de ação, trazendo atores da academia, setor privado, financeiro e comunidades locais para o centro das negociações climáticas.
O executivo também ressalta o desafio das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Até o final de setembro, apenas 62 países haviam apresentado seus compromissos, representando 31% das emissões globais com redução prevista de 17% até 2035 — muito aquém dos 60% necessários para limitar o aquecimento a 1,5°C. “O papel brasileiro será estimular os países não só a colocarem maior ambição nas suas NDCs, mas de fato acelerarem a implementação”, conclui.
O VEJA+Verde, apresentado pelo editor Diogo Schelp, reúne especialistas, gestores públicos e empresários para discutir soluções que conciliem desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
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