Fed pode enfrentar espaço menor para corte de juros nos EUA, diz Mário Mesquita
Atividade americana segue forte, o que tem efeitos potenciais para a rigidez da inflação -- e, portanto, para a política monetária
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, talvez enfrente um espaço menor para cortar os juros no país, dada a resiliência da atividade, que tem efeitos potenciais para a rigidez da inflação. A constatação é de Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, a partir da leitura passada pelos participantes do evento Macro Vision, ocorrido ontem.
“Talvez o banco central americano tenha menos espaço para cortar a taxa de juros do que o mercado chegou a colocar na curva [precificar nos contratos de juros futuros negociados na B3]. Ou talvez ele caminhe para fazer movimentos intermitentes, espaçando mais no tempo o processo”, disse ele, durante apresentação a jornalistas nesta manhã.
Ainda conforme Mesquita, também preocupa, no cenário global, o nível da atividade econômica na China. Segundo o economista, o gigante asiático está vivendo uma “transição de regime”, em que é preciso estimular o consumo local — e o governo está caminhando nessa direção. “Mas, ainda assim, isso parece muito casado com aquela estratégia tradicional de crescimento via exportações, via exportações de manufatura, sendo mais específico”, afirma. “Então, é uma incógnita e um risco para a economia mundial.”
O economista também abordou o tema das eleições americanas, afirmando ter ouvido dos participantes do evento ontem e de outras conferências que há um “ligeiro favoritismo” para o candidato republicano Donald Trump. A diferença é que a candidata democrata Kamala Harris está na frente no voto popular, “mas com uma margem muito estreita”, especificamente nos chamados “swing states”, isto é, os Estados americanos em que nenhum partido ou candidato tem maioria absoluta nas intenções de voto, de modo que qualquer um poderá ganhar. “Ambos estão virtualmente empatados”, afirma Mesquita.
O Macro Vision foi um evento realizado ontem pelo Itaú Unibanco e contou com personagens ilustres, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o diretor de pólitica monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, escolhido e aprovado para ser o novo presidente do BC a partir de 2025.