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Falta o básico

Fundador do Insper, Haddad se escandaliza com um ensino que falha até em dar noções elementares de matemática

Por Felipe Carneiro Atualizado em 1 fev 2019, 07h00 - Publicado em 1 fev 2019, 07h00

Em 1999, o economista Claudio Had­dad aproveitou a bem-sucedida venda do Banco Garantia, do qual era sócio, para comprar o braço educacional do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), que oferecia educação executiva. Sua primeira medida foi criar os cursos de graduação em administração e economia, que comemoram duas décadas agora em 2019. Had­dad resolveu separar a escola de São Paulo das outras unidades, espalhadas por outros estados, em 2004 e transformou a faculdade em uma instituição sem fins lucrativos, dedicada também à pesquisa, que anos depois foi rebatizada de Insper (de Inspirar e Pertencer). Haddad falou a VEJA sobre seus vinte anos à frente da entidade e sobre sua visão do cenário da economia e da educação brasileiras hoje.

O senhor deu uma entrevista a VEJA em 1998 em que revelava o desejo de criar uma filial da renomada Harvard Business School no Brasil. O Insper é a realização dessa aspiração? Eu fiz vários cursos na Harvard Business School, então para mim ela era um modelo importante de escola de negócios. Meu sócio na época era Paulo Guedes (o atual ministro da Economia). Ele viu a entrevista e disse: “Olha, tem essa oportunidade aqui do Ibmec. Podíamos comprar”. Compramos. Mas aí a coisa evoluiu de outra maneira, foi muito além da escola de negócios.

Qual o legado que o Insper deixa para a sociedade brasileira? Foi uma doação que nós fizemos para o país. O Ibmec era uma instituição com fins lucrativos. Nós separamos o Ibmec São Paulo das outras unidades, quitamos todas as dívidas, e o doamos a uma instituição sem fins lucrativos, que é o Insper. As grandes universidades que primam pela geração de conhecimento são, via de regra, sem fins lucrativos. Quando você visa ao lucro, não há por que aplicar em pesquisa. Pode ter excelência de ensino, mas não excelência como entidade acadêmica, universitária, com pesquisa relevante. O legado está aí.

Seu pai fez carreira na universidade pública, e chegou a sub-reitor da UFRJ. O que o senhor levou da experiência dele ao Insper? Minha mãe e meu pai eram professores universitários. Desde cedo, entendi que o grande problema que meu pai enfrentava era a governança. O dinheiro que vai para as universidades públicas não tem nenhuma cobrança de resultados, de metas ou de excelência. Há muitos casos de jogo de cartas marcadas nos concursos, esse tipo de coisa. Gasta-se uma fortuna em educação, muito mais do que há vinte anos, sem que se tenha uma melhora correspondente na qualidade do ensino. Desperdiça-se muito dinheiro público no Brasil.

Daí vem sua vontade de investir em uma faculdade privada? Minha ideia de entrar no Ibmec veio justamente por ver um vácuo no topo da pirâmide de qualidade educacional no ensino superior brasileiro. As faculdades particulares se concentravam mais na massa, em colocar gente para dentro. O que também é importante. Mas, em questão de excelência acadêmica, o Brasil tinha as universidades públicas, que eu via perdendo terreno por problemas de governança, e umas poucas privadas. Era uma boa oportunidade de ganhar dinheiro, que, de fato, deu muito certo. Fui eu que mudei de objetivo com o tempo e parti para o Insper, sem fins lucrativos.

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O novo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi seu sócio durante muitos anos. Como o senhor vê a chegada dessa escola liberal a Brasília? Eu perdi o contato com o Paulo desde que nos separamos, lá atrás. E ainda não vi nada concreto na área econômica. Não sabemos o que vai ser a reforma da Previdência, por exemplo, apesar de se falar nisso todos os dias desde o ano passado. Não foi apresentado um programa de governo concreto. Pa­rece-me que as intenções são boas, mas vamos esperar uns meses para ver o que vai acontecer.

O senhor já denunciou publicamente a ideologização da educação no país. Acha que aí está uma questão central da educação brasileira? Pessoalmente, acho que boa parte dos livros didáticos brasileiros, sobretudo os de história e geografia, é muito superficial e tem um viés ideológico. Mas também acho que essa discussão não é central e pode tirar o foco do principal problema, que é a falta de aprendizado adequado em matérias básicas, como português, matemática e ciências. Isso é muito mais importante. É preciso achar maneiras de melhorar o aprendizado no Brasil, dado que menos de 60% dos alunos se formam no ensino médio e, desses, menos de 10% têm noções de matemática minimamente adequadas. Essa é a grande tragédia nacional.

Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620

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