Executivos preferem chefe inspirador a amigo ou protetor
Pesquisa revelou alta no número de profissionais com comportamentos inapropriados
O líder que posiciona-se como exemplo para melhorar as práticas de trabalho é o gestor mais valorizado pelos executivos. Foi isso o que mostrou a pesquisa Estudo de Remuneração 2017, da consultoria Michael Page. Esse tipo de chefe, definido como inspirador, foi citado por 48% dos executivos pesquisados, deixando de lado aqueles líderes com perfis de amigo (5%), protetor (4%) ou cauteloso (3%).
A pesquisa também revelou outro perfil em alta, citado por 40% dos executivos: o de gestor aberto, que interage com a equipe focando no diálogo.
“As pessoas querem um líder aglutinador, que traga as pessoas para o time, que tenha humildade para saber escutar e está aberto para lidar de igual para igual”, afirmou o diretor-executivo da Michael Page, Roberto Picino.
Segundo Picino, os funcionários não querem alguém que os proteja e seja muito aberto a questões pessoais. “Eles querem se desenvolver na carreira, ter alguém pra se espelhar e que o cobre por resultados. Uma coisa que incomoda muito os funcionários são chefes com dificuldade para ouvir.
Os traços individuais dos líderes é outro fator importante que influencia os resultados do time. “Um chefe com características positivas tem uma retenção maior. As pessoas ficam mais comprometidas porque querem e não pela cobrança ou outra força externa. Com o chefe que não tem isso, as pessoas perdem entusiasmo e a vontade de estar ali. No final do dia, o perfil comportamental faz diferença”, disse o diretor.
Desvio de conduta
Não basta só monitorar o próprio comportamento, os chefes também precisam redobrar a atenção ao modo de agir dos funcionários. Três em cada dez executivos têm desvios de conduta, como a disposição para roubar valores financeiros da empresa. O dado é do Perfil Comportamental dos Executivos, da HSD Consultoria em RH e Orchestra Soluções Empresariais. Em 2013, 20% dos profissionais apresentavam essa disposição – agora o percentual subiu para 27%.
Falta de caráter, dissimulação e disposição para manipular pessoas são algumas das características que definem esses executivos. O desvio de conduta traz potencial de risco para as empresas, mas é possível evitar o problema.
Para o diretor-executivo da Michael Page, o perfil do chefe que comanda a equipe pode ajudar a combater desvios de conduta.”O profissional que garante proximidade e é transparente pode inibir uma conduta errada.”
De acordo com a presidente da HSD e vice-presidente da Orchestra Soluções Empresariais, Susana Falchi, é possível reconhecer um executivo com desvios de conduta. “Ao fazer a aplicação de ferramentas psicológicas é possível identificar a estrutura do caráter do indivíduo. Isso você não pega por entrevista, o processo seletivo é importante para verificar o quanto a pessoa sustenta suas ações.”
Segundo ela, esse tipo de comportamento nasce com cada indivíduo.”É um comportamento consciente, alguns acham que é um diferencial competitivo, que está gerando resultado. Nos últimos 20, 16 anos o conceito de certo e errado vem sendo relativizado e acaba impactando muito. Há uma fragilidade emocional grande, as pessoas desenvolvem o conhecimento, mas não trabalham aspectos da inteligência emocional. Poucas pessoas vão buscar terapia”.
Ao identificar um profissional com desvio de comportamento, são poucas as empresas que o demitem, ainda de acordo com Susana. Isso acontece porque a empresa não quer causar alarde. Ela citou um episódio em que o presidente de uma empresa admitiu que tinha conhecimento dos desvios de conduta de um profissional. “Identificamos que o profissional tinha esse comportamento e o presidente disse ‘eu sei que ele rouba, mas traz resultados’. A mensagem que passa é que esse tipo de comportamento é permitido”.
A profissional ressaltou a importância de um canal de denúncia dentro das empresas. “Com o ambiente de crise, a empresa quer mais resultados, mas é preciso focar na manutenção do negócio e não no resultado imediato. Quando você bonifica um executivo, favorece o desvio e maquiagem de resultados, que o executivo vai querer atingir a qualquer custo”.
Todos os aspectos estruturais, como dissimulação, registraram alta em relação à 2013. O item que representa a tendência do profissional para desviar valores financeiros teve um aumento de 25% para 27%. Outra dado que chamou a atenção foi o desvio do comportamento sexual que dobrou, de 4% para 7%. Confira outros resultados da pesquisa:
Estrutural |
% 2013 |
% 2017 |
Comportamento /Impacto |
Desvio de caráter devido à autoimagem inflada |
28 |
30 |
|
Desvio de caráter, com tendência a desvio de valores financeiros. |
20 |
27 |
|
Dissimulação/mentira/intriga |
22 |
25 |
|
Desvio de caráter devido à baixa autoconfiança |
13 |
17 |
|
Desvio de caráter devido à estrutura emocional fragilizada |
8 |
12 |
|
Desvio do comportamento sexual |
4 |
7 |
|
A pesquisa é elaborada a cada três anos. Nessa edição, foram estudados o comportamento de 3500 profissionais que ocupam cargos de comando em médias e grandes corporações. No levantamento anterior, em 2013, foram feita 5000 avaliações.