Como CNI recebeu pacote industrial anunciado pelo governo
O plano inclui um pacote de 300 bilhões de reais em crédito, até 2026, voltados, em grande parte, para projetos em pesquisa e inovação
O governo federal anunciou no início da semana um novo plano para o desenvolvimento da indústria nos próximos dez anos. O pacote envolve volumes bilionários em financiamentos, reduções de impostos e outros incentivos — o que não foi bem recebido pelo mercado financeiro, motivo para a disparada do dólar na última segunda-feira.
Na indústria, claro, a recepção foi diferente. O setor avalia as medidas como forma de estimular investimentos e a modernização do setor. Rafael Lucchesi, diretor de desenvolvimento industrial e econômico da Confederação Nacional da Indústria (CNI), compara o Nova Indústra Brasil com o Plano Safra, programa de incentivo ao setor agropecuário, que oferece linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para os produtores rurais, desde os agricultores familiares até os mega produtores. “Nenhuma política é completa, mas ela é moderna, ajustada com melhores práticas internacionais”, diz. “O plano vai dar para a nossa produção industrial sentido de política de Estado”, prossegue.
Luchessi lembra que a política de incentivos fiscais à indústria é global. “Estamos indo na direção correta, 300 bilhões de reais é um excelente ponto de partida. Todo os países possuem gatilhos de incentivo à exportação”, afirma. Segundo ele, o montante bilionário “praticamente” não terá impacto fiscal. “São recursos que já estavam previstos no Orçamento”, diz.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden anunciou um programa atrás do outro para acelerar a economia, como manda a cartilha democrata. Primeiro, veio o American Rescue Plan, um pacote colossal de 1,9 trilhão de dólares, votado no Congresso após sua posse, em 2021. Logo em seguida, foi anunciada mais uma pancada no Tesouro: 550 bilhões de dólares para um pacote de obras de infraestrutura, como rodovias, pontes e redes de internet. Em 2022, o governo anunciou a Inflation Reduction Act, um plano de 10 anos que inclui descontos de energia e créditos fiscais para acelerar a transição energética. O impacto esperado é de 430 bilhões de dólares. A mais recente iniciativa da lista é o Chips Act, que visa incentivar a instalação de plantas tecnológicas de ponta. O investimento será de 280 bilhões de dólares em uma década. “Política industrial é mais importante porque gera mais empregos, renda e investimentos. A cadeia industrial é muito longa. Pagamos os maiores salários, as pessoas vão consumir mais. Tem um efeito multiplicador importante”, completa Luchessi.
O plano
Batizado de Nova Indústria Brasil , o programa traça políticas para o setor até 2033, além de um plano de ações e disponibilização de recursos específicos para o período de 2024 a 2026, ou seja, até o final do atual mandato. Ele reúne e amplia projetos que já haviam sido lançados ao longo do ano passado, além de abrir novas frentes de incentivos. O plano inclui um pacote de 300 bilhões de reais em crédito, até 2026, voltados, em grande parte, para projetos em pesquisa e inovação. Eles serão abastecidos por recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e também da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), além de mecanismos do mercado de capitais.
O anúncio caiu de maneira indigesta no mercado. O dólar operou em alta e o Ibovespa, principal índice da bolsa americana, em queda, imediatamente após o lançamento. O pacote lembra a política do BNDES dos “campeões nacionais”, que vigorou principalmente durante do governo Dilma Rousseff e concedia crédito subsidiado a empresas para que elas “liderassem” o desenvolvimento do país. “O BNDES lá atrás financiou porque você tinha TJLP [taxa de juros de longo prazo, que não é mais usada como referência nos contratos do banco], então você financiava alguns setores. Acabou. Não existe mais isso”, disse o vice-presidente Geraldo Alckmin.