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Encrenca grande: novela do escândalo das Americanas não terminou

O descalabro nas contas da empresa afetou o varejo e o mercado de crédito, encarecendo a tomada de dinheiro

Por Victor Irajá Atualizado em 24 dez 2023, 08h06 - Publicado em 24 dez 2023, 08h00

Nove dias. Esse foi o tempo que o executivo Sergio Rial ficou à frente da Americanas até jogar no ventilador uma gigantesca fraude financeira e administrativa que permeava a empresa. Depois da revelação de Rial, empossado em 2 de janeiro, a Americanas trouxe à tona, em comunicado publicado no dia 11 do mesmo mês, a descoberta de “inconsistências” de 20 bilhões de reais — a seguir remensuradas para 42,5 bilhões. Rial renunciou ao posto.

O caso caiu como uma bomba no mercado financeiro e trouxe à luz um método turvo que existia na Americanas há tempos. A descoberta da fraude não teve só impacto na varejista, que entraria com um pedido de recuperação judicial no dia 19, mas também acendeu um holofote sobre os acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — três dos homens mais ricos do país.

Detentor de mais de 30% das ações da companhia à época, o trio entrou na mira da Comissão de Valores Mobiliários em uma série de investigações sobre seu papel na Americanas. Segundo o depoimento do então presidente Miguel Gutierrez, os três exerciam “forte influência e controle” sobre o negócio. Em resposta, a Americanas embasou a estratégia de defesa no argumento de que a tríade de empresários não sabia das incongruências contábeis.

Ao longo de todo o ano, a empresa encarou uma série de duras negociações com os principais credores, os bancos, numa miríade de idas e vindas que culminou na aceitação de um acordo no fim de novembro. Pelo acordado, haverá um aumento de capital na empresa de 24 bilhões de reais — o trio aportará metade, enquanto outros 12 bilhões de reais serão convertidos em créditos.

O descalabro nas contas da Americanas afetou o varejo e o mercado de crédito, encarecendo a tomada de dinheiro. Mas o temor de que o novelo do escândalo seria maior se mostrou exagerado. Em maio, o Banco Central apontou que “análises realizadas continuam indicando não haver risco relevante para a estabilidade financeira” no caso da Americanas. Essa novela iniciada em janeiro de 2023 não terminou. Talvez não acabe nem no ano que vem.

Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873

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