ASSINE VEJA NEGÓCIOS

Entenda o que vai mudar no Drex, o PIX 2.0 do BC

Banco adia blockchain e tokenização da moeda; primeira versão, em 2026, será voltada a serviços internos do sistema financeiro, não ao uso popular

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 ago 2025, 17h10 - Publicado em 14 ago 2025, 10h57

O Brasil, pioneiro no PIX e entusiasta declarado da inovação financeira, acaba de recalibrar seu projeto mais ambicioso desde o sistema de pagamentos instantâneos. Na semana passada, o Banco Central (BC) anunciou que a próxima fase do Drex, apresentado em 2023 como a futura moeda digital oficial do país, será lançada em 2026 sem tecnologia de registro distribuído (DLT), um tipo de blockchain, e sem tokenização.

A mudança não é apenas técnica, mas altera o próprio alcance da iniciativa. Em vez de um instrumento financeiro digital que pudesse ser usado diretamente pelo cidadão, a primeira entrega será uma ferramenta de bastidor para reconciliação de gravames, um sistema que permitirá verificar, de forma integrada, se um ativo registrado em diferentes instituições já está sendo usado como garantia de crédito. É útil para bancos, corretoras e cartórios, mas invisível para o usuário final.

Para parte do mercado, a guinada não representa um retrocesso, mas um ajuste de rota. “Ao unificar os dados de gravames em uma única plataforma, a velocidade e o custo dos processos de crédito no país serão drasticamente melhorados”, afirma Wagner Martin, VP de Relações Institucionais da Veritran no Brasil. Ele vê a mudança como mais uma etapa de um projeto maior, que no futuro poderá ser tokenizado e gerar ainda mais automação.

Drex será faseado

O novo cronograma divide o Drex em dois horizontes. No curto prazo, a solução será construída com tecnologias tradicionais, deixando de lado a rede blockchain que havia sido escolhida: a Hyperledger Besu. Num segundo momento, ainda sem prazo definido, voltam à pauta as redes blockchain e a automação via contratos inteligentes, aproximando o projeto de sua concepção original.

Continua após a publicidade

A Hyperledger Besu, uma rede permissionada compatível com contratos inteligentes do Ethereum, mostrou-se complexa demais para os objetivos do BC. O principal obstáculo foi criar um mecanismo de privacidade que não comprometesse a programabilidade do sistema.

Quando o Drex foi revelado, em agosto de 2023, o discurso oficial falava em inclusão financeira, investimentos fracionados e até pagamento de benefícios sociais via moeda digital. Agora, o foco imediato é menos disruptivo: melhorar a infraestrutura de garantias de crédito. Para o cidadão, nada muda na vida cotidiana; para o sistema financeiro, há ganhos de eficiência.

Guinada não é exclusiva

Continua após a publicidade

Globalmente, a guinada brasileira não é isolada. Apenas três países – Bahamas, Jamaica e Nigéria –  já lançaram suas moedas digitais de varejo. Outros 134 ainda estão em fase de pesquisa ou piloto. “Apenas um país baniu oficialmente moedas digitais de varejo: os Estados Unidos, no governo Trump”, lembra Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank.

A América Latina, por outro lado, vive um boom de criptoativos. Segundo a Chainalysis, a região é hoje o segundo mercado que mais cresce no mundo, com alta de 42,5% no último ano. O Brasil ocupa o 9º lugar global em adoção, motivado não por especulação, mas por uso prático: proteger-se da inflação, receber pagamentos internacionais e superar a burocracia bancária.

Para os defensores de uma moeda digital estatal, o recuo é decepcionante. Para reguladores, é um movimento pragmático: melhor entregar algo funcional em 2026 do que apostar todas as fichas numa tecnologia que ainda não está madura para o uso pretendido. O risco é que, ao adiar a visão mais ambiciosa, o Drex perca tração no debate público e se transforme, no curto prazo, em uma “moeda digital de bastidor”, relevante para o mercado, mas distante do bolso e da tela do cidadão.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 41% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 16,90/mês
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Veja Negócios impressa todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.