Empresários esperam inflação maior do que o mercado financeiro, mostra novo relatório do BC
Informação integra o novo relatório Firmus, que acompanha as expectativas do setor produtivo para indicadores que influenciam a decisão da taxa de juros

O empresariado brasileiro acredita que a inflação, medida pelo IPCA, chegará ao fim de 2025 em 5% – fora do centro da meta, que é de 3%, e acima, também, do limite máximo estipulado, que é de 4,5%. A projeção faz parte do relatório Firmus referente a agosto. O Firmus é o novo boletim que passou a ser produzido neste ano pelo Banco Central, ainda em caráter de testes, colhendo as expectativas do setor produtivo para a inflação, a economia e outros indicadores econômicos. O objetivo do Firmus é complementar o já consolidado Boletim Focus, que colhe semanalmente as expectativas de analistas do mercado financeiro, como bancos, gestores, consultorias e fundos de pensão.
Essas projeções são usadas pelo Banco Central para capturar a expectativa dos agentes econômicos para a inflação futura, uma das principais bases usadas pelo BC para estimar as tendências para a inflação real e, com isso, decidir a Selic, a taxa básica de juros do país – quanto mais alta a inflação esperada pelas pessoas, mais a inflação real tende a persistir e a resistir a cair.
A expectativa de 5% para o IPCA apontada pelos empresários na edição de agosto do Firmus está ligeiramente abaixo daquela projetada pelo mercado financeiro – na edição de 29 de agosto do Boletim Focus, mesma data de fechamento das coletas do Firmus, o mercado financeiro projetava uma IPCA de 4,85% ao fim de 2025. Nos dois casos, o número divulgado leva em consideração a mediana de todas as projeções coletadas.
Para 2026 e 2027, a projeção dos empresários é de IPCA a 4,5% e 4%, respectivamente, ante 4,31% e 3,94% nas projeções do mercado financeiro ao fim de agosto. Pelo Boletim Focus mais atual, com as projeções do mercado financeiro coletadas na semana passada e divulgadas nesta segunda-feira, 29 de setembro, as expectativas para o IPCA já estão ligeiramente menores, e são de 4,81, 4,28% e 3,9% para 2025, 2026 e 2027, respectivamente.
O Firmus foi realizado entre 11 e 29 de agosto de 2025 e consultou 224 empresas. Foi a terceira rodada da pesquisa, feita trimestralmente até aqui, ainda caráter piloto, com o objetivo de avaliar a clareza e a eficácia das perguntas, além de ser apresentada às empresas e ampliar a base de respondentes. Na edição anterior do Firmus, relativa a maio, a expectativa dos empresários para a inflação ao fim de 2025 estava mais alta, em 5,5%. A projeção para o PIB, por sua vez, subiu de 2% para 2,05% agora. Atualmente, o IPCA acumulado em 12 meses está em 5,13%, considerados os dados de agosto.
“Diferentemente do que se poderia esperar, os dados da Firmus não destoam tanto do Focus”, disse o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento realizado na manhã desta segunda-feira pelo lançamento do novo relatório. “Em outros países, essas respostas geralmente vêm superiores [às dos mercado financeiro], e aqui não estão tão superiores, além de também não serem inferiores, como se imaginava.”
De acordo com Galípolo, o Firmus foi feito para ampliar a base de dados utilizada pelo Banco Central na formulação da taxa de juros e da política monetária, e deve enriquecer o processo. “Historicamente, as pesquisas que temos de projeção da inflação e de outras variáveis que subsidiam a política monetária costumam ser respondidas por participantes do mercado ou por acadêmicos”, disse o presidente do BC. “Faltava essa interlocução, um canal formal para ouvir o que se costuma chamar de setor real da economia.”