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“Empreender é suor e sorte”

Luiz Quinderé, de 32 anos, começou a vender brownie aos 15 e hoje produz 1 tonelada do doce por semana

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 mar 2022, 08h00

Estava na escola, aos 15 anos, quando notei uma oportunidade de negócio. Na ocasião, eu havia levado um brownie pela primeira vez de lanche e o doce fez o maior sucesso com meus colegas. Eu conhecia há pouco tempo o tal bolinho: uma amiga me serviu um e eu peguei a receita. Em casa, pedi à Antonieta, cozinheira que trabalhava para meus pais, que fizesse para mim. Ao perceber a demanda na escola, fizemos mais brownies e comecei a vender. Na época, em 2005, eu os vendia por 3 reais — e 50% dos lucros ficavam com Antonieta. Os pedidos cresceram para além do colégio e passei a fazer entregas de skate. Seis anos depois, eu estava na Ana Maria Braga falando do Brownie do Luiz, apelido que os amigos usavam e eu abracei como nome da empresa. Hoje, temos sessenta funcionários, produzimos 1 tonelada de brownies por semana e estamos presentes em mais de 2 000 pontos de vendas no Brasil. Conto essa história em detalhes no livro Fora da Lata, lançado pela editora Rocco. Desde 2005, venho construindo essa trajetória e senti o desejo de escrever um livro para ajudar os que estão começando no mundo dos negócios e para tirar um pouco o glamour do empreendedorismo.

Foram muitos os perrengues que enfrentei até aqui. As pessoas não veem as horas que um empreendedor fica sem dormir, a rotina puxada no fim de semana e as muitas burocracias. Minha grande inspiração nessa área foi minha mãe, Renata Quinderé. Aos 24 anos, na década de 80, ela saiu do zero e abriu a Academia da Cachaça, no Rio de Janeiro. Minha mãe é cearense e meu pai, maranhense. Foi a partir dessa herança nordestina que aprendi desde cedo sobre a importância do trabalho. Minha mãe perdeu o pai em 1973, vítima do acidente do voo Varig 820, que saiu do Galeão rumo a Londres e caiu na França. O luto foi seguido de dificuldades financeiras e minha avó, que não trabalhava, teve de se reinventar para criar cinco filhos sozinha. A mudança para o Rio foi uma forma de buscar uma vida melhor tanto para a minha família materna quanto para a paterna.

Desde criança, eu entendi que devia ter meu próprio dinheiro. Aos 8 anos, vendi balas para comprar a camiseta do meu time (Botafogo). Na adolescência, joguei futebol no Botafogo e no Flamengo. Eu não nasci para trabalhos convencionais. Não fui bem na escola, nem na faculdade — que não terminei. Deixei de lado o roteiro “formatura e emprego estável”. Mas sempre tive o desejo de tirar projetos do papel e provar que consigo ir além do que esperam de mim. Uma das grandes lições que minha mãe me deu foi a frase: “Crie o problema e depois a gente resolve”. É uma boa maneira de fazer um planejamento sem medo de ousar. Outro aprendizado vindo dela foi a importância de ter pessoas confiáveis ao seu redor. Depois que a Antonieta deixou a casa dos meus pais, a Vânia Maria assumiu a produção — e hoje é minha sócia. Do meu quadro societário, apenas um injetou dinheiro na empresa, os demais trabalham com suas especialidades. Eu me cerquei de amigos e bons profissionais, o que não me isentou de enfrentar dramas, como o baque de ter 40 000 reais roubados por um funcionário.

Quando a produção de brownies deixou de ser caseira para virar de fato uma empresa, deparei com as dificuldades de empreender no Brasil. Abrir um negócio aqui é quase uma burrice, pois a chance de quebrar é maior do que a de sobreviver. A relação risco e retorno não é equilibrada. Os pequenos empresários e aqueles que, como eu, partiram para o empreendedorismo precisam ter estímulos fiscais para continuar na jornada do crescimento, no jogo da economia. Ao unir essas lições no livro, vi que empreender é uma mistura de suor e sorte. É preciso ser dedicado e focado para ter o próprio negócio.

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Luiz Quinderé em depoimento dado a Raquel Carneiro

Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780

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